Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

Não foi um lobo solitário

18/11/2024 18H04

Jornal Ilustrado - Não foi um lobo solitário

Achei que tinha visto de tudo. Não tinha. Agora vi o atrevimento da loucura no acontecido em Brasília, onde um sujeito foi para matar o Ministro do STF, Alexandre de Moraes. Isso não é coisa de lobo solitário. É fruto de uma pregação constante de ódio às instituições que vem contaminada pela  doutrina espúria de dominação do extremismo direitista que engana quando fala em liberdade total e sem limites na lei. Não se trata da loucura que o filósofo Erasmo de Rotterdam refere no seu “Elogio da loucura”. Lá, faz sátira à mediocridade do poder terreno, inclusive na igreja que servia como sacerdote, onde também via corruptos e hipócritas ritualistas. Sua loucura era pura, santa e corajosa, mas não incitava ódio e nem intolerância. Não é o caso do político de discurso direitista do PL que foi atirar bomba no Supremo.  

Não. O Francisco Luiz que acabou morrendo pela bomba que jogou no Supremo não é um Adélio maluco e isolado, mas é fruto dessa doutrina que ataca o Supremo que só tem cumprido sua obrigação de aplicar a lei. Não lhe agradava o freio da lei aplicada dos Ministros à insanidade. Essa loucura impregnada de ódio capturou muita gente, desavisada ou não. Se há incautos, também existem mal intencionados. Todos, invariavelmente, chafurdam na loucura coletiva do sofisma da liberdade sem limites que prega desordem e anarquia. Que mudem para a ilha de Robinson Crusoé. Lá não tem leis nem instituições democráticas que abominam. É no contexto da toada malsã da anarquia que está o indigitado suicida que saiu de Santa Catarina para pousar de herói, matando o Ministro Alexandre de Moraes, um ex-Promotor de Justiça que honra o Supremo, a lei e a Democracia. Vou ao parágrafo.

As redes sociais replicam ódio e ninguém as regula. O triste governo passado se alimentou de ataques ao Supremo e às instituições democráticas. Tinha o gabinete do ódio e tentou contra as eleições. Quando deposto no voto, insurgiu-se contra o resultado. Isso gerou uma loucura coletiva que levou milhares de pessoas à frente dos quartéis para pedir intervenção militar, enquanto outros bloqueavam rodovias e impediam a liberdade de ir e vir. Tudo isso desaguou no oito de janeiro, levando uma turba enfurecida a quebrar os prédios dos três poderes da República. O intento era causar um caos total para justificar uma intervenção militar. Não entende quem não quer. Ficou claro e evidente que o suicida da bomba não foi um lobo solitário.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).