Coluna
Eliseu Auth
Quem freqüentou a universidade ao tempo da ditadura militar, eternizou no seu imaginário a canção “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Ele, uma das tantas vítimas da truculência da ditadura, exortava: “Quem sabe faz a hora. Não espera acontecer…”. Isso foi como grito de guerra para os ideais de liberdade, igualdade e justiça social da juventude estudantil de então. E as ruas se encheram de estudantes, professores e outros intelectuais, afrontando balas, fuzis, bordunas e tacapes da ditadura.
Olhando para o ano novo em curso, os ideais de então, voltam a povoar os corações de quem sonha um amanhã melhor para todos. Não vivemos uma ditadura explícita, mas os tempos são de obscurantismo. O fundamentalismo se organiza no mundo e aqui dentro, agarrado a superados conceitos religiosos e invoca um “deus” de ódio e de mentira. Somos chamados a lutar contra isso. É uma nova ditadura que sataniza minorias, diversos e diferentes. Não basta só desejar coisas boas para o ano novo. Podemos fazer algo. O que importa é olhar, ver, querer e fazer acontecer um mundo onde todos sejam respeitados e chamados para o grande ágape da dignidade.
Não dá para não reagir à destruição do estoque ecológico do planeta. Nem aqui, nem em lugar algum. Nós e nossos descendentes precisamos de chuvas, água, ar e alimentos. Não podemos capitular para os que debocham do aquecimento da terra e riem da ciência, ainda que tenham bíblia nas mãos e digam que falam em o nome de Jesus. A terra não é plana, o homem é produto da evolução e o planeta aquece assustadoramente. São fatos e não crenças religiosas que tateiam no escuro, vendem medo e cobram dinheiro para Deus. Somos chamados à luta pelos ideais republicanos de liberdade, igualdade e fraternidade. Quem sabe, faz a hora. Não espera acontecer.
(Eliseu Auth e promotor de justiça inativo, atualmente advogado).