Eliseu Auth
Eliseu Auth
Lembro que fui derrotado na escolha do nome para o jornal dos estudantes da Faculdade de Filosofia de Santo Ângelo – RS. Na direção do Diretório Acadêmico “Jackson de Figueiredo, queria “Angústia” como nome, mas os estudantes preferiram “O Coruja”, já que a ave de olhos grandes sempre foi símbolo da filosofia que olha e pensa o mundo. Quis botar no nome a intrincagem dos problemas que a filosofia aborda, mas não deu e o nome do jornal ficou sendo “O Coruja”, preferido pelos colegas. Ao menos acertei no método democrático que restou sendo consolo de quem combatia a ditadura.
Falo de angústia no título, não no sentido que queria no nome do jornal, mas um sentimento que deve estar invadindo nossos corações e mentes, nestes dias em que o Brasil de meu Deus arde em chamas e clama por chuvas. Já não bastasse a crise climática que escasseia chuvas e alonga a estiagem, incêndios se multiplicaram em todo o país. Destroem nossas reservas florestais e matas em todos os biomas, levando de roldão o verde que garante a chuva de que tanto precisamos. Não há um só ser vivo que possa prescindir da água que o filósofo Tales de Mileto, seiscentos anos antes de Cristo, reconhecia imprescindível, chegando a dizê-la como princípio das coisas. De fato, está mais que na hora de todos os que plantam e colhem, respeitar as florestas que produzem chuvas e garantem as águas. De que vale o dinheiro no bolso, se ficamos destruindo os biomas para botar boi, soja e o escambal. Minha angústia é que chegará o dia em que plantaremos sem colher e teremos boi sem ter pasto, por falta de chuva. Isso é pior que matar a galinha dos ovos de ouro porque matamos a própria vida.
Não me sai da cabeça a advertência da ONU, na última Assembléia Geral. “Estou aqui para soar o alarme. Estamos à beira do abismo – e nos movemos na direção contrária”, desabafou o Secretário-Geral das Nações Unidas, ao abordar a questão climática. Volto aos incêndios que acontecem por aqui. Segundo se apurou, 90% deles vem de ações propositais. Se o desatino foi no Brasil inteiro, a imprensa noticiou que um só fazendeiro do Mato Grosso teria queimado uma área l.500 campos de futebol em matas. Que vai na alma de gente assim, se é que tem alma? O ser humano deixou de ser humano? A vida de todos nós que habitamos esta terra não vale nada? Não é de dar angústia?
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).