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Morador de Serra dos Dourados celebra 101 anos de vida com história de trabalho, superação e muito bom humor

03/06/2025 11H29

Jornal Ilustrado - Morador de Serra dos Dourados celebra 101 anos de vida com história de trabalho, superação e muito bom humor

Marino Ferreira da Silva chegou aos 101 anos no último domingo (1º), e sua vida é daquelas que parecem ter saído de um livro — recheada de trabalho duro, amores, perdas, fé e muitas histórias para contar. Nascido em 1924, na zona rural de Itinga, interior de Minas Gerais, Marino vive hoje em Serra dos Dourados, distrito de Umuarama (PR), onde foi homenageado por filhos, netos, bisnetos, sobrinhos e amigos em uma comemoração marcada pela emoção e pela gratidão à sua longa trajetória.

Criado em fazenda, Marino começou a trabalhar na lavoura ainda criança, seguindo os passos do pai. Frequentou a escola primária até o segundo ano, tempo suficiente, segundo ele, para aprender o que precisava. “Eu escrevo e faço meus cálculos muito bem”, disse, sorrindo com simplicidade e orgulho.

Ao longo da vida, formou uma família numerosa: teve 12 filhos — três já falecidos — e estima ter mais de 80 netos e bisnetos, sem contar os tataranetos. Mora atualmente aos fundos da casa de uma das filhas, cercado por muito carinho e cuidado.

Em 1946, aos 22 anos, casou-se com uma jovem de 19, com quem viveu por 47 anos. O relacionamento rendeu os 12 filhos e muitas lembranças. A esposa faleceu em 1993, vítima de um câncer. Marino ficou viúvo por nove anos, até que reencontrou o amor durante um baile no Clube do Vovô, em Umuarama. Casou-se novamente e viveu mais 14 anos ao lado da segunda esposa, que faleceu em 2016 por problemas de saúde. 

A mudança para o Paraná aconteceu em 1974. Um amigo que vivia na região de Umuarama contou sobre as boas oportunidades no estado. Curioso, Marino decidiu conhecer o lugar. Veio com um primo e, encantado com a região, voltou para Minas Gerais para buscar a esposa e os filhos. No ano seguinte, já vivendo com a família em Serra dos Dourados, enfrentaram um dos episódios mais marcantes da agricultura paranaense: a geada negra de 18 de julho de 1975.

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Marino lembra com clareza daquela madrugada congelante. Dois de seus filhos, com 10 e 11 anos, chegaram a desmaiar devido ao frio extremo enquanto trabalhavam com ele na lavoura. Uma das filhas, então com 18 anos, conta que foram socorridos por vizinhos. “Eles colocaram a chaleira no fogo, nos deram chá quente e nos aqueceram. Foi o que salvou meus irmãos”, relembra.

Apesar das dificuldades iniciais, Marino construiu uma vida sólida no Paraná. Mantém hábitos simples e um humor leve. Um de seus passatempos favoritos é jogar na mega-sena. “Se eu ganhar, quero ajudar a família. E não é pouca, é muita boca pra ajudar a comer”, brinca.

Sobre alimentação, é descomplicado: come de tudo, sem frescura ou preferência. Mas um hábito chama a atenção: todos os dias, toma duas doses de pinga — uma no almoço e outra no jantar. “Na fazenda onde morávamos em Minas, o patrão era médico. Ele dizia que uma dose de pinga no almoço era como remédio. Desde então, nunca deixei de tomar”, conta, com risos.

Mesmo aos 101 anos, Marino não deixa de sonhar: quer encontrar uma terceira companheira. Até antes da pandemia, era presença frequente nos bailes da terceira idade, onde dançar era uma de suas grandes paixões. E quando o assunto é futebol, ele é democrático: “Meu time é o que ganhar”, diz, bem-humorado.

Com mais de um século de existência, Marino Ferreira da Silva carrega a sabedoria dos que viveram muito e amaram intensamente. Sua história é um exemplo de resiliência, humildade e esperança. Um verdadeiro tesouro humano da região.