Meu país é o Brasil

Gosto do sul, onde nasci, cresci. Saí do Rio Grande e fiz do Paraná minha querência. Sou grato por tudo o que o sul foi e é prá mim. Nele forjei caráter e têmpera. Conto que papai tinha uma pequena colônia de terras onde lavrei, carpi, plantei e colhi. Tratava da criação, tirava leite, encilhava cavalo, encangava boi e andava de carroça, tudo no jeito simples e rústico do pequeno agricultor. Família de alemães e muito religiosa, um dia o vigário me sugeriu ser padre. Papai e mamãe aprovaram. Então saí de onde nunca tinha saído e fui ao seminário de Cerro Largo. Chorei muito. Parecia estar em outro mundo. Vida vai, vida vem, cheguei ao seminário de Uruguaiana e parei em Viamão onde os padres se formavam, mas terminei a universidade em Santo Ângelo.

Que seja piequice contar essas coisas minhas. Não importa. Preciso pontuar meu carinho pelo sul e justificar que, apesar do meu amor, ele não é meu país. O meu país é o Brasil que vai do Oiapoque ao Chuí e tem mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Sua geografia tem Norte, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul. Ele é grande e diverso. Tem povos originários, negros, brancos, mulatos, caboclos e cafusos. Tem Amazônia, pantanal, cerrado, caatinga, mata Atlântica e pampa. Sua gente, em todas as origens, credos, sexos e opções sexuais é a Nação brasileira com governo soberano e que segue uma Constituição democrática, no melhor dos regimes.

Digo tudo isso porque volta e meia aparecem insinuações separatistas. Estão em redes sociais e em políticos direitistas que flertam com a idéia malsã. Em verdade, são diatribes do obscurantismo extremista que se alimenta de ódio, preconceito e xenofobia. A eles, leio o artigo 1º da Constituição: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito(…).” Sublinhei a indissolubilidade que é cláusula pétrea. Entre outros objetivos nacionais está: “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (inc. III). Sou do sul e moro no sul, mas o sul não é meu país. Nem o sudeste ou os dois juntos. Meu país é o Brasil.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).