Umuarama

CORONAVÍRUS

Médicos de Umuarama começam escolher quem será intubado e pessoas vão morrer

06/03/2021 09H54

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Em live organizada pela Prefeitura de Umuarama os profissionais de saúde das alas Covid de Umuarama tentaram alertar a população da cidade e da região sobre a gravíssima situação que caminha a pandemia do coronavírus. Segundo os médicos, o fluxo de pacientes graves aumentou consideravelmente e com a sobrecarga de leitos, falta de profissionais habilitados para UTIs e escassez de insumos, pessoas vão morrer sem ter a possibilidade de ter um atendimento adequado.

Visivelmente preocupados e abalados os médicos que participaram da live pediram encarecidamente o apoio da população para lutar contra o coronavírus. O médico infectologista do Hospital do Câncer Uopeccan, Raphael Chalbaud Biscaia Hartmann, começou sua fala ressaltando que sua companheira de trabalho, a médica responsável da Ala Covid da Uopeccan, Carla Dal Ponte, não estava na live pois naquele momento estava entubando um paciente.

“Estamos vivendo uma situação que ultrapassou o limite do tolerável para todos. Hoje chegamos a uma situação tão crítica que pessoas vão morrer sem conseguir acesso à rede hospitalar, devido ao volume de pacientes infectados. Enquanto houver desculpas vamos continuar caminhando para um desastre e infelizmente seu pai, sua mãe, seu irmão ou seu filho podem morrer. Não é mais questão de hospital e sim atitude da população”, disse Raphael Chalbaud Biscaia Hartmann.

Ainda segundo Hartmann, a situação é crítica em ambos os hospitais que atendem covid-19 e pacientes estão sendo intubados fora das UTIs. “Se a população não jogar junto, se não se unir, vamos perder de goleada”, desabafou o médico.

Conforme a diretora da 12ª Regional de Saúde, Viviane Herrera, 128 pacientes da macrorregião noroeste esperavam uma vaga de leito covid, sendo que a taxa de ocupação de leitos era de 97%. “Todos os esforços estão sendo realizados, mas nossa média de casos tem aumentando e nossa taxa de transmissão do virus já chegou a 48,5%. O Paraná abriu mais 3.600 leitos e não foram suficientes. Não temos mais hospitais, equipamentos e profissionais para atender o fluxo de pessoas doentes”, alertou.

Em meio ao atendimento dos 44 pacientes em ala covid, sendo 17 entubados, a médica Carla Dal Ponte conseguiu participar da coletiva e em sua primeira fala ela contou a difícil atitude de ter que escolher qual paciente seria intubado. “Estava preparando dois pacientes para intubar e ainda tive que escolher quem seria intubado. Isso é doloroso, desgastante. Não tem vaga e vamos ter mais mortes por não ter como cuidar. Tivemos que parar as admissões, pois são muitos pacientes graves e a equipe não dá conta. Não é só receber, temos que dar assistência e nem sei mais como dominar essa situação”, desabafou a médica visivelmente cansada.

Apoio da população

Todos os participantes da coletiva esclareceram que se não houver apoio da comunidade a situação será de calamidade com pessoas morrendo em casa. “As pessoas não acreditam no que está acontecendo. Estamos vivendo uma situação gravíssima”, falou Cecília.

O médico intensivista e pneumologista, Ronaldo de Souza, coordenador da UTI Covid-19 do Hospital Cemil, reforçou que não existem mais vagas em Umuarama, nem particular. “Não tem vaga, nem pagando temos vagas. Recebemos diariamente entre cinco ligações de pessoas procurando vaga para paciente covid-19 e não tem. As pessoas estão sendo egoístas e não estão preocupadas com os familiares. Pensava que com a pandemia as pessoas valorizariam mais a saúde e o próximo, mas isso não está ocorrendo”, noticiou.

O médico explicou que as pessoas estão ficando doentes de uma forma grave, o que saturou o sistema de saúde. “Os jovens estão abusando e começamos a entubar pacientes de 20 e 30 anos, as pessoas estão morrendo”, enfatizou Ronaldo, que também criticou a falta de estrutura das cidades vizinhas, sendo que isso já levou a morte e mais mortes ocorrerão.

Ronaldo de Souza conclamou à população não esperar dos poderes políticos uma atitude e sim cada um fazer sua parte. “Ou nos unimos fazendo nossa parte ou vamos perder alguém querido da nossa vida, não tenha dúvida disso”, disse o médico.