Dr. Eliseu Auth

25/05/2021

Lições do selvagem

24/05/2021 21H06

Jornal Ilustrado - Lições do selvagem

Eliseu Auth

Faço questão de continuar lembrando os conceitos sempre atuais da Carta do cacique “Seathl” ao Presidente dos Estados Unidos que, um dia, quis comprar as terras dos índios da tribo “Duwamish”. Se entendermos a sua importância para o planeta e para o bem de quem o habita, terá valido a pena. O que chamamos de civilização do homem branco está longe de ser civilizado.

A Carta advertia: “Nosso Deus é o mesmo Deus! Julgas, talvez, que o podes possuir da mesma maneira como desejas possuir a nossa terra. Ele é o Deus da humanidade. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo seu Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa que outras raças! Continua poluindo tua própria cama, e hás de morrer sufocado nos teus próprios desejos. Depois de abatido o último bisonte e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, e quando as colinas escarpadas se encherem de mulheres a tagarelar, onde ficarão os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará o adeus à andorinha da torre e à caça, o começo da luta para sobreviver e o fim da vida.”

“Talvez, compreenderíamos se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos que esperanças transmite aos filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferece às suas mentes para que possam formar os desejos para o dia a dia do amanhã. Mas, nós somos selvagens (…)”.

Pois é. Esse selvagem nem imaginava o que o homem branco faria com o planeta. Desconhecia emissão dos gases e efeito estufa. Ignorava que as geleiras poderiam derreter e os mares subir. Como adivinhar que o homem branco seria tão imprevidente? Que odiaria as florestas que garantem chuva para pastos e plantações? Que grilaria suas terras, venderia as toras e poluiria as águas correntes com o mercúrio do garimpo ilegal em nome de um falso progresso? Castro Alves bradaria: Fatalidade atroz que a mente esmaga! Ainda fazemos troça das lições do selvagem.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).