Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

Lições do pai moderno e seu Imposto de Renda

19/03/2024 16H32

Jornal Ilustrado - Lições do pai moderno e seu Imposto de Renda

Repito este artigo para reflexão. Li-o no jornal Fenacon e faço a síntese para quem tem filhos e vai declarar o seu Imposto de Renda: “O pai moderno passa a vida correndo como louco, em busca do futuro e esquece o presente. Com orgulho, a cada ano, declara seu imposto. Cada nova linha acrescida foi produto de muito trabalho. Lotes, casas, sítios, automóvel do ano – tudo custou dias, semanas e meses de luta. Mas, ele está fazendo o futuro da família… Se partir de repente, já cumpriu sua missão e não vai deixá-la desamparada. Para aumentar os bens, ele não se contenta com um emprego só. É preciso ter dois ou três, vender parte das férias, levar serviços para casa, ser dinâmico, viajar e fazer reuniões. Esse homem esquece que a verdadeira declaração de bens, o valor que conta, está em outra página do formulário do imposto de renda. Está nas linhas modestas e quase escondidas onde se lê: “Relação de dependentes”, pessoas a quem deve dedicar melhor o seu tempo.

     Os filhos, novos demais, não estão interessados em propriedades e no aumento da renda. Só querem um pai para conviver, dialogar e brincar. Os anos passam, os meninos crescem e o pai nem percebe. Entregou-se de tal forma à construção do futuro, que não participou de suas pequenas realizações do presente. Não os levou ao colégio, nunca foi a uma festa infantil e não teve tempo para assistir à coroação de sua filha como Rainha da Primavera. Há filhos órfãos de pais vivos. O pai para um lado, a mãe para outro: a família desintegrada, sem amor, sem diálogo e sem convivência. Depois de uma dramática experiência pessoal e familiar, diz o pai que não há tempo melhor empregado que aquele dedicado aos filhos. Agora estou aqui com o resultado de tanto esforço: construí o futuro e não sei o que fazer com ele, depois da perda de Luiz Otávio e Priscila. Que vale o que juntei, se esses filhos não estão mais aqui? Se o resultado de 30 anos de trabalho fosse consumido e não restasse mais que cinzas, isso não teria importância. A escala de valores mudou e o dinheiro de que vale agora? Ele não foi capaz de comprar a cura do meu filho amado que se drogou e morreu. Nem evitou a fuga de minha filha que saiu de casa, se prostituiu e dela não tenho mais notícia. Eu trocaria, expodinho de felicidade, todas as linhas da declaração de bens por duas únicas que tive que retirar da relação de dependentes: os nomes de Luiz Otávio e Priscila. Meu filho morreu aos 14 anos e minha filha sumiu um mês antes de completar 15 anos.” Você, ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” e eu, só temos a aprender com as lições do pai moderno e seu imposto de renda.

     (Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).