Eliseu Auth
Domingo terminaram as Olimpíadas de Paris. Suas lições vão perdurar na memória do mundo civilizado. Se não ganhamos as medalhas que queríamos, não importa. Aquele podium formado por Rebeca Andrade, Simone Biles e Jordan Chiles, três mulheres negras, fala por si só e orgulha a civilização.
É um recado para o mundo intolerante e racista, opressor e individualista que não abre mão de descrer que somos todos iguais. É o mundo do ódio, dos privilégios e da dominação. A história é um longo registro das lutas entre opressores e oprimidos que se prolonga no tempo. Só para exemplificar, há alguns dias, Donald Trump, candidato à presidência da Nação mais poderosa do mundo, deu mostras disso: Ao demonizar a imigração nos Estados Unidos, exortou que ela fazia com que brancos teriam que fazer trabalho de pretos. Ao racismo explícito, Simone Biles, negra americana e multi-campeã olímpica, respondeu que estava fazendo o seu trabalho. Trabalho de negra campeã…
Temos saudades do que já foi o partido republicano, hoje refém de Trump. Fundado no norte dos Estados Unidos para se contrapor à sanha escravagista do sul, teve Abraham Lincoln como o presidente que aboliu a escravidão. Para tanto, teve que enfrentar e derrotar os Estados confederados do sul que se uniram contra o norte abolicionista e se declararam independentes. Foi na guerra civil também chamada Guerra de Secessão, uma luta fratricida que deixou 600 mil vítimas. Lincoln manteve os Estados Unidos sob a mesma bandeira e honrou os ideais republicanos de então. Depois, racistas o mataram.
Temos tudo a aprender com os negros. Sua história é imagem viva de paz, respeito e dignidade, sem pretensão de superioridade em relação a quem quer que seja. Só lutam por igualdade racial que é direito seu. Nelson Mandela é o mais icônico exemplo disso. Depois de ficar preso 27 anos, por lutar contra o “apartheid” na África do Sul, saiu da prisão injusta sem rancor e pregou a paz. De sua estatura moral brotaram eleições livres e multirraciais em 1994, quando exortou brancos e negros a se darem as mãos: “Amigos, camaradas e companheiros sul-africanos, eu os saúdo em nome da paz, da democracia e da liberdade para todos”. A mensagem é uma das lições das Olimpíadas.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).