Eliseu Auth
Eliseu Auth
Numa das lições do meu seminário está que precisamos ser inquietos e buscar a razão desta nossa peregrinação terrena. Ser sal da terra, luz do mundo, fazer o bem sem olhar a quem e amar a Deus, origem de todo o bem, repetiam os padres. Lembravam a inquietude de Santo Agostinho: “Inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te, Domine!”(Inquieto está o nosso coração, enquanto não descansa em Ti, Senhor). Das matérias que mais gostava era filosofia, sem nunca ter sido sombra de filósofo.
Na ânsia incontida de me entender e entender o mundo, vi que nunca deixei de ser um repertório de dúvidas e de inquietudes existenciais. Dia sim, dia não, dialogava com meus botões sobre elas em dose de ceticismo que só não é maior que o de René Descartes em seu “Cogito, ergo sum” (penso, logo existo), como se a própria existência pudesse ser apenas sensação e sonho.
A filosofia quer que se pense e busque entender o ser e a razão das coisas, do conhecimento e da verdade. Seu objeto é o “kosmos” com seus problemas, mitos e dogmas. Ir, da existência à essência das coisas e colocar ordem no caos existente até que a mente surgisse, segundo o velho Anaxágoras.
Se nem a ciência e nem a filosofia explicam a existência de um criador do universo, não há quem não se preocupe com Ele. De minha parte, olhando as coisas e a ordem no espaço imenso que tenho como infinito, creio em Deus pela fé que aprendi de pequeno. Paro aí e nem indago como entendê-Lo nas três pessoas como fazia o santo de Hipona às margens do rio Nilo. Nele vejo o o fundamento da moral que aconselha fazer o bem. Se creio pela fé, respeito ateus e agnósticos que concluem na lógica e à mão do que aprenderam. A fé é crença, convicção íntima e não nunca foi conclusão de premissas da lógica aristotélica. Se religiões que tateiam no escuro, condenam quem não crê e ousam negar-lhes os céus, às favas com elas. Afinal, ignoram a insignificância de seus dogmas, juízos e leis que pretendem submeter Deus a seus mandos, interesses e desmandos. Meu Deus é amor e síntese de todo o bem. Ele é liberdade que ama e respeita o próximo, natureza, ar puro, árvore e água cristalina. Como não amá-Lo assim? São minhas inquietudes existenciais.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).