Cotidiano

LINCHAMENTO

Familiares rechaçam acusação de estupro e afirmam inocência de mototaxista

20/05/2021 20H00

Jornal Ilustrado - Familiares rechaçam acusação de estupro e afirmam inocência de mototaxista
Foto divulgação Polícia Militar

Os dois filhos e uma das irmãs do mototaxista que morreu após ser violentamente agredido por moradores no conjunto Sonho Meu durante a noite de terça-feira (18) rechaçaram veementemente a acusação de um suposto estupro contra duas meninas que teria sido cometido pelo homem.

Eles conversaram com a imprensa no fim da tarde desta quinta-feira (20), enquanto aguardavam para prestarem depoimento na delegacia da Polícia Civil em Umuarama, que investiga o crime.

Inocência

“Queremos que a verdade seja apurada, para o bem ou para o mal. Nós, da família, por conhecermos meu pai e o caráter dele sabemos que ele era inocente. Queremos que se ele for culpado, se prove isso, com laudos”, afirmou o filho mais velho, de 26 anos.

Ele e o irmão moram em São Paulo e chegaram na quarta-feira (19), poucas horas antes do sepultamento do mototaxista no Cemitério Municipal. Apresentando serenidade o jovem contou que conversou com o pai na manhã do crime e que este estava tranquilo.

Conversa

“Ele disse que não sairia de sua casa porque tinha certeza de que era inocente. Ele me disse que chegou a conversar com o pessoal do crime do bairro e que eles garantiram que não fariam nada, antes de ter um laudo sobre o possível estupro. Meu pai nos deixou apenas o nome e ele era um homem honrado. Se ele tivesse culpa não teria ficado, não acha?”, questionou.

Aquela foi a última conversa que o rapaz teve com o pai. Ele guardou prints do diálogo que pretendia apresentar para a polícia quando fosse ouvido.

A agressão

Os filhos e a irmã afirmaram que a vítima foi surpreendida pelos agressores quando chegou em casa, após passar o dia trabalhando. “Eles estavam dentro do quintal da casa e logo começaram a bater. Meu pai não teve chance”, contou com tristeza o jovem de 26 anos.

A dor

“Estão acusando meu pai, mas ninguém conta que ele começava a trabalhar às 6 horas e parava somente de noite e ainda vendia pão”, afirmaram os irmãos. Eles se mostraram indignados com postagens onde se afirma a culpa do mototaxista. “Independentemente se ele cometeu isso ou não, e eu acredito que não, a dor da família não foi respeitada. Isso não se faz”, lamentou. Vídeos que mostram as agressões circulam por grupos de mensagens.

Medo de represálias

Segundo a irmã, de 49 anos, ela está com medo pela integridade da família, da mãe idosa da vítima e da viúva do mototaxista. “Estão dizendo que ela é a próxima. Ela está em choque”, relatou.

Os familiares afirmam que o mototaxista era uma pessoa temente a Deus e que amava as crianças. “Temos vídeos e fotos das crianças com ele e com a minha cunhada. Elas não tinham medo dele. Criança quando é abusada tem medo do agressor. E ele não ficava sozinha com as meninas”, enfatizou a irmã.

A família

Além das meninas de 6 e 8 anos, o mototaxista e a esposa criava a cerca de dois anos mais um menino com pouco menos de dois anos, todos netos da mulher. O casal estava junto há 3 anos. “A filha dela não se preocupava com as meninas. Apareceu na sexta-feira (14), pegou as crianças, deixou com essa babá que está fazendo as acusações, e sumiu para a balada. Só apareceu no domingo”, relatou indignada a irmã do mototaxista.

Acusação forjada

A família sustenta que a acusação foi forjada para prejudicar o mototaxista. “Em conversa meu pai afirmou que estavam armando contra ele e indicou o nome de quem estaria fazendo isso. Só não sabemos porque. Por isso pedimos a ajuda de todos para esclarecer o que realmente ocorreu. Meu pai não vai voltar, mas queremos a verdade”, finalizou um dos filhos.

Investigações

A Polícia Civil instaurou dois inquéritos para apurar as circunstâncias do suposto linchamento e também se houve ou não o suposto abuso sexual contra as duas meninas. O caso de suposto estupro está sendo apurado pela Delegacia da Mulher.

Laudos

Segundo o delegado responsável pela DM, Adailton Ribeiro Júnior, o laudo do IML já foi solicitado, bem como a escuta especializada das crianças por uma psicóloga. “Agora temos que aguardar o resultado dos laudos”, afirmou. Os documentos devem ser expedidos em até 30 dias.

Suposto abuso

Segundo a Polícia Militar a denúncia de suposto estupro foi feito na noite de sábado (15) e as crianças após passarem pelo Pronto Atendimento foram encaminhadas pelo Conselho Tutelar para uma tia e estão sendo acompanhadas. As crianças não estavam mais na residência no dia da agressão.

Linchamento

Segundo a irmã do mototaxista ele foi violentamente agredido nas costas e na cabeça. “Eu tive que fazer o reconhecimento do corpo dele. A cabeça parecia uma gelatina”, relatou entre lágrimas.

Segundo a família, após as primeiras agressões ainda no interior do quintal da casa da vítima ela teve as mãos amarradas e foi arrastada pela rua. O corpo foi encontrado cerca de 100 metros da residência pela PM. Uma equipe do Samu acionou a Polícia Militar. Os socorristas apenas constataram o óbito. O caso segue sendo investigado pela sede da 7ª SDP de Umuarama.