ANJOS DO BEM
“Eu sabia que Deus ia ajudar a me curar do câncer”. A frase dita com tanta certeza e fé é de um adolescente de apenas 14 anos, que apesar do 1,8 metro de altura, ainda tem a voz ora mais grave ora mais aguda. Mas isso não faz diferença na vida de Gustavo da Silva Guelere.
O que importa é que esse estudante do nono ano do ensino fundamental de Douradina está curado de um Linfoma de Hodgkin. Esse tipo de câncer se origina no sistema linfático, que é responsável pela imunidade.
Gustavo é um dos 98 pacientes da oncologia infantil do Hospital Uopeccan que contou parte da sua experiência de vitória do câncer na sexta edição do livro “Anjos do Bem”, lançado oficialmente em Umuarama nesta quarta-feira (12), em uma sessão de autógrafos onde ele, juntamente com Jaqueline, Ana Laura, Caio e tantos outros anjos corajosos compartilham suas histórias com tristezas, medos, dúvidas, fé e porque não, alegrias.
Agora em março completa um ano que Gustavo descobriu a doença, mas os sintomas começaram meses antes. “Sentia muita tontura, calafrios, falta de ar, sudorese e minha pressão caia”, contou o estudante. A primeira manifestação foi quando Gustavo servia como coroinha na missa, em agosto de 2018. “Tiveram que me socorrer”, relembra.
Somente em março veio a confirmação. “Eu fiquei sabendo o que era no dia em que fui internado em Cascavel”, contou. Segundo a mãe, a auxiliar de enfermagem Maria Célia Guelere, 56 anos, o resultado dos exames foi conhecido no dia anterior.
“Não tínhamos levado roupa, nem nada para ficar, mas ficamos mesmo assim. Compramos algumas roupas e ficamos com ele, que já ficou internado para as quimioterapias”, explicou. No total foram cinco sessões de quimio e 16 de radioterapia.
“Ele sentiu muito medo, mas foi corajoso e amadureceu. Me perguntava porque com ele. Foi muito difícil quando o Gustavo perdeu um amigo, também adolescente, para a doença”, afirmou Maria Célia.
“Tenho muito orgulho do meu filho, de como ele enfrentou tudo. Nunca desanimou e me falava que ele ainda entendia o que estava acontecendo, mas que as crianças menores, que também faziam o tratamento, não tinham noção da gravidade. Ele saiu disso tudo mais maduro”, afirmou a mãe. Gustavo começa a trabalhar como menor aprendiz nas próximas semanas e quer ser engenheiro mecânico.
A estudante altoniense Jaqueline Miorim, também de 14 anos, está há quatro anos livre de um câncer no útero. Quando o tumor foi descoberto, Jaqueline tinha 10 anos. “Eu notei que a barriga dele começou a crescer. Parecia que estava grávida. Vi que não era normal”, relatou o pai, o sitiante Adão Miorim, 56 anos.
Ele e a esposa levaram a filha do meio ao médico. “No ultrassom já apareceu o tumor e o médico disse que era grave e pediu uma tomografia. Mostrei para o dr. Jonas, que é meu amigo, e ele me encaminhou para Umuarama e disse que era sério e que tínhamos que correr. Aqui, pelo SUS queriam que a gente esperasse a tomografia, mas não dava”, relatou.
Adão contou que na mesma tarde foi até o consultório da ginecologista Tânia Perci, em Umuarama. “A secretária me disse que ela não me atenderia por causa da agenda cheia. Eu esperei e conseguiu mostrar para a assistente da médica, que quando viu, logo nos encaminhou para a médica. Dois dias depois, ela e o dr. Eduardo Schultz realizaram a cirurgia para tirar o tumor que já tinha um quilo e media 12 cm x 16 cm. Foram dois anjos nas nossas vidas”, contou Adão.
O passo seguinte foram as sessões de quimioterapia. “Minha filha foi muito corajosa. Ela ficou com a imunidade muito baixa e acabou pegando uma infecção hospitalar. Foram 15 dias na UTI. Foi o momento mais difícil, mas não tenho explicação. Ele lutou sempre pela vida e agora está bem”, afirmou Adão.
Para Jaqueline o momento mais difícil foi a perda dos cabelos. “Eles eram lisos e quando voltaram a crescer ficaram cacheados”, contou a estudante o primeiro ano do magistério.
Tranquila, ela disse que quer “ser professora para as crianças”. Jaqueline hoje mantém a rotina normal de uma adolescente. “Mas isso deixou sequelas em todos. Durante um ano íamos todos os meses para Cascavel é ficávamos uma semana. As outras duas filhas ficavam em casa e a mais velha até hoje faz acompanhamento psicológico por medo de perder a irmã”, afirmou Adão.
O Projeto Anjos do Bem nasceu como iniciativa das professoras do programa SARE (Serviço de Atendimento a Rede de Escolarização do Paraná), mantido pela Secretaria de Educação.
O objetivo do programa é assistir de forma temporária as crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer para manterem a rotina escolar e estarem aptos quando retornarem para a escola.
“O livro surgiu a partir dos depoimentos feitos pelas crianças e adolescentes nas aulas de redação. São autobiografias que reunimos, contando a história de cada um desses pequenos heróis”, explicou a pedagoga Aryadny Neubaer, coordenadora do programa SARE no Hospital Uopeccan, em Cascavel.
Ela salientou que o livro Anjos do Bem também é uma forma de orientar os pais sobre sintomas e sinais que a doença apresenta. “É uma forma de prevenir e orientar para que todos fiquem atentos”, esclareceu.
Onde comprar o Livro Anjos do Bem:
Na sede da Legião Feminina de Combate ao Câncer (LFCC) de Umuarama junto Ao Hospital Uopeccan em Umuarama (Av. Paraná, 7592)
Valor R$ 30,00
O dinheiro arrecadado será revertido integralmente para o setor de Oncologia Infantil do Hospital Uopeccan
