É dia de finados

Eliseu Auth

         Neste dia de finados, somos chamados a meditar sobre o dia da nossa partida. Afinal, somos contingentes e passageiros deste mundo de meu Deus. Um dia, vamos embora dele. Dói pensar nisso? Que doa, mas vai fazer bem. Vamos constatar que ódio, trapaça e mentira não aplacam nossa inquietude. E que o supremo ensinamento da vida é viver honestamente e fazer o bem. O sermão não é meu. É dos romanos do tempo de Ulpiano que aconselhavam: “Neminem laedere, suum cuique tribuere, honeste vivere”. (Não prejudicar o outro, dar a cada um o que é seu e viver honestamente). Precisa mais o quê?

          Desde pré-história, o homem enterra seus mortos e cultiva rituais fúnebres. Psicólogos e seus pares dizem que velórios, rituais de féretro e lutos podem até ser estranhos, mas têm sentido porque amenizam a dor de quem ficou e fecham um ciclo para abrir outro, agora sem a pessoa que partiu.

         Com o tempo, o homem criou cemitérios para enterrar os seus. Ali construiu jazigos, fez mausoléus, inscreveu epitáfios e botou símbolos religiosos. Diz a história que cemitérios da Idade Média, eram lugar de cerimônias públicas. Ali, Juízes liam sentenças, Padres davam sacramentos, pregadores exortavam para o arrependimento e prefeitos anunciavam medidas administrativas. E, quando alguém morria, era enterrado ali.

         Já rezei pelos que partiram. Pedi ao Deus da minha fé que está acima de tudo, não só acima de todos, que os acolha. Agora, deixem que meu pensamento voe para o cemitério da Linha Salto, minha terra natal, lá no noroeste do Rio Grande. Quero rezar pelos meus. Entro e faço o sinal da cruz. À esquerda, não longe da entrada, jaz meu querido irmão Romeu. Um acidente de moto o tirou de nós. Ao lado dele, Nicolau Meinerz, nosso primeiro professor. Adiante, um pouco à direita, descansam papai João e mamãe Leonora. Detenho-me ali num misto de tristeza, saudade e emoção. Um filme me roda na memória, com roteiro de ensinamentos de vida que me deixaram. Estão nos céus, mas vejo-os, ouço suas vozes e lembro seus gestos, ralhos, conselhos e lições. Desculpem, se fui piegas. Afinal, é dia de finados.

         (Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).