Discípulos de Hipócrates

Eliseu Auth

Hoje me recuso falar da manifestação antidemocrática de domingo com a presença do presidente da República. Vou falar dos médicos e dos agentes da saúde. Estes sim, merecem a reverência que o mundo faz. Esses discípulos de Hipócrates são soldados que arriscam a vida para cuidar das nossas vidas.

Lá na Grécia antiga, há dois mil e quinhentos anos, Hipócrates já concebia a medicina como ciência. Criou uma Escola de Medicina e elaborou um sistema de teorias médicas, combatendo crendices e superstições que eram usuais no trato das doenças. Li, na pesquisa que fiz, que sua fama começou por volta de 430-429 a.C. quando Atenas foi assolada por uma epidemia. Aí orientou que acendessem fogueiras por toda a cidade como forma de combatê-la. Não era charlatanismo, mas conclusão tirada da observação. Constatara que pessoas com ofício perto de fogo, eram imunes à contaminação. E aquecendo a cidade, a epidemia passou. Seu nome pegou fama e admiração.

Nasci de parteira como muitos, tempos atrás. Na região de Santo Cristo e Santa Rosa, lá no Rio Grande, havia duas muito conhecidas: Frau Friedrich e Frau Mombach. Esta última cuidou do parto da minha mãe que me trouxe ao mundo, lá na pequenina, mas emblemática terrinha da Linha Salto.

Todos nós temos uma ligação de afeto com o médico. É ele quem nos acompanha do berço ao túmulo. A minha, quis o destino que fosse maior. Se ando, devo aos médicos. E, se estou vivo, devo também. Como entre o céu e a terra existe mais que aviões da FAB e tudo é insondável, talvez seja por isso que meus filhos foram para a área da saúde. Dois deles são discípulos de Hipócrates que hoje se batem contra a pandemia que insiste em nos assolar.

Se pareço piegas, me perdoe o ilustrado leitor do Umuarama Ilustrado, mas não quis sê-lo. Deixei o coração falar e dizer o que quisesse. Talvez seja porque estou meio que preso em casa, onde só posso dialogar com a bagunça do meu apartamento e com os livros da minha biblioteca. Volta e meia vou à televisão que replica e treplica o combate ao “coronavírus” pelos valorosos agentes da saúde e pelos valentes discípulos de Hipócrates.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).