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DE GUAÍRA

Delegado e investigadores são condenados a penas de mais de 150 anos por corrução

14/12/2023 08H58

Jornal Ilustrado - Delegado e investigadores são condenados a penas de mais de 150 anos por corrução

Um delegado da Polícia Civil e mais 10 pessoas, entre investigadores, agentes de cadeia e criminosos foram condenados a penas individuais de mais de 150 anos de prisão pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e concussão.

O delegado Deoclécio Deltros, o superintendente à época Hamilton Luis Neto Ravedutti e investigadores, que entre 2015 e 2019 atuaram na delegacia da Polícia Civil de Guaíra, tiveram o esquema descoberto na Operação Xadrez, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público em 30 de abril de 2019.

Todos foram acusados de facilitar a entrada de alimentos, bebidas alcoólicas, celulares e prostitutas para presos, além de receberem quantias vultuosas para facilitar a saída de presos custodiados na cadeia pública de Guaíra durante o período da noite e transferir internamente presos para celas mais confortáveis e com privilégios, mediante pagamento de propina. Um detento, que deveria estar recolhido na cadeia de Guaíra durante a noite, chegou a ser preso em flagrante pelo crime de tráfico de drogas em Cascavel neste período.

PENAS

Na época, quatro investigadores e três agentes de cadeia chegaram a ser presos. O delegado e o superintendente foram afastados temporariamente dos cargos.

A sentença, com 591 páginas, é do juiz substituto da Vara Criminal de Guaíra, Adeilson Luz de Oliveira e foi publicada no último dia 30 de novembro de 2023. Da sentença cabe recurso.

O delegado Deltros recebeu pena de 153 anos, 7 meses e 22 dias de reclusão. Seu superintendente, Ravedutti, foi condenado a 161 anos de reclusão. Um agente de cadeia, responsável pelo transporte dos presos e também pela guarda deles, foi condenado a 167 anos de prisão. Os demais receberam penas que variam entre 95 anos e 26 anos de reclusão. Ao total, o grupo foi acusado de cometer 17 crimes, sendo 13 de corrupção ativa e passiva.

MORDOMIAS

Segundo a “sentença, os denunciados, valendo-se de suas funções públicas, franqueavam aos presos da Cadeia Pública de Guaíra acesso a substâncias entorpecentes, a aparelhos de telefone celular, a bebidas alcoólicas, e, além de outros objetos, permitiam a entrada de prostitutas no local, conforme interceptação ambiental e as oitivas realizadas após a deflagração da fase ostensiva da Operação Xadrez”.

Ainda segundo a decisão judicial, o delegado e o superintendente são apontados como “os principais responsáveis pela blindagem da organização criminosa, visto que todas as irregularidades não eram investigadas, nada obstante a presença diária dos denunciados nas dependências da Delegacia de Polícia e da Cadeia Pública de Guaíra. Além disso, os denunciados exigiam quantias em dinheiro para que os reclusos da Cadeia Pública de Guaíra ocupassem, ainda que transitoriamente, o papel de preso de confiança, isto é, o detento responsável pelo auxílio dos gestores e dos agentes temporários do DEPEN em atividades de rotina na cadeia pública. Depreende-se, também, que os denunciados exigiam dos presos da Cadeia Pública vantagem econômica, especialmente em dinheiro, para que os alojamentos e as celas com maiores comodidades, na estrutura da Cadeia Pública de Guaíra, fossem destinados àqueles que pagassem por isso”, consta.

O grupo também foi acusado de cobrar de detentos para alçá-los a condição de preso de confiança. Os valores variavam entre R$ 10 mil e R$ 50 mil, segundo a sentença. Um dos presos de confiança chegou a realizar tarefas, como expedição de ofícios, separação de apreensões e confecção de boletim de ocorrências.

POLÍCIA CIVIL

O Ilustrado entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Polícia Civil do Paraná pedindo um posicionamento da entidade sobre a condenação. Também foi questionado se os servidores públicos continuam na ativa ou estão afastados e o que pode acontecer com eles a partir da condenação. Até o fechamento da edição, não houve retorno. O espaço está aberto para manifestação.

OUTRA PARTE

O Ilustrado tentou contato com a defesa dos condenados, mas até o fechamento da matéria, sem sucesso. O espaço está aberto para manifestação.

No processo, todos os réus pediram a absolvição embasado na insuficiência de provas para sustentar uma condenação e não existir prova de terem os réus concorrido para as infrações penais apresentadas pelo Ministério Público.