Umuarama

“Nunca tive um plano B”

Defensora Pública conta como venceu os desafios dos concursos e escolheu Umuarama

14/06/2025 12H20

Jornal Ilustrado - Defensora Pública conta como venceu os desafios dos concursos e escolheu Umuarama

A Defensora Pública Majoí Coquemalla Thomé, responsável pela área da Infância e Juventude — cível e infracional — da comarca de Umuarama, esteve na tarde de quinta-feira (12) em visita ao jornalista Ilídio Coelho Sobrinho, diretor do Jornal Umuarama Ilustrado. Durante o encontro, ela compartilhou detalhes de sua formação, da escolha pela carreira jurídica e de sua trajetória até assumir o cargo na Defensoria Pública do Estado do Paraná, em abril de 2024.

Natural de Maringá, Majoí iniciou sua formação superior na Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde cursou Direito após breve passagem pelo curso de História. Foi na UEM que teve seu primeiro contato com o Direito da Infância e da Juventude, ao ingressar no projeto de extensão do Estado do Paraná, o NEDDIJ (Núcleo de Estudos e Defesa de Direitos da Infância e da Juventude). Ali, ainda como estudante, descobriu sua vocação ao atuar com demandas relacionadas à criança e ao adolescente, área que muitas vezes não integra a grade curricular dos cursos de Direito.

“Eu sabia que queria trabalhar com criança e adolescente, mas não sabia exatamente o que queria fazer”, relatou. “Foi quando entrei para o NEDDIJ da UEM, e comecei a trabalhar lá já como advogada, não mais como estagiária. Trabalhei um tempo nesse núcleo e, com a experiência, percebi que queria algo mais estável, foi então que decidi me preparar para concursos públicos.”

PREPARAÇÃO E APROVAÇÃO

Em 2020, Majoí iniciou sua preparação, logo no início da pandemia. Deixou a universidade e passou a advogar de forma autônoma, especialmente em causas de Direito de Família. Planejava abrir um escritório no mesmo prédio da agência dos pais, mas, com o avanço da Covid-19, optou pelo home office — o que acabou sendo positivo. “Eu não tinha os custos fixos de um escritório, e a minha estagiária também trabalhava de casa. Isso me permitiu controlar melhor o número de demandas e focar nos estudos.”

Ela destacou que, embora advogasse bastante, a prioridade era o concurso público. “Eu limitava o número de causas para poder estudar. Em geral, organizava minha rotina dedicando as manhãs aos estudos e as tardes à advocacia, já que as audiências normalmente ocorrem nesse período.” Sua meta era estudar entre quatro e seis horas por dia, adaptando-se à imprevisibilidade da advocacia.

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Ao comentar sobre o processo do concurso, Majoí revelou que estudou por dois anos até ser aprovada na primeira fase da Defensoria, realizada em março. “A preparação que você faz acaba sendo uma base para todas as fases. Claro que a segunda fase e a prova oral exigem adaptações, mas o conteúdo é o mesmo. A prova oral foi em outubro, então todo o processo durou cerca de oito meses.”

SEM PLANO B

Ela destacou que não estabeleceu um plano alternativo. “Minha mãe dizia que eu precisava de um plano B. Mas eu nunca tive. Não sei o que teria feito se não tivesse passado. Também nunca coloquei um limite de tempo. Nunca pensei: ‘se em três ou cinco anos não passar, desisto’. Eu sempre acreditei que uma hora daria certo.”

Sobre os momentos difíceis, Majoí foi sincera: “Nunca pensei em desistir, mas teve fases muito difíceis. Às vezes eu pensava: será que minha vida vai ser só estudar para concurso? Todo concurseiro passa por isso. Nessas horas, é preciso manter a positividade, mas também ter uma autoavaliação honesta. Todo mundo tem capacidade, mas se o método não está funcionando, é preciso mudar.”

Uma das estratégias que utilizava era fazer o acompanhamento da própria evolução. “Eu anotava todas as provas que fazia ou simulava, mesmo as de outros estados. Comparava minha nota com a nota de corte e via se estava me aproximando. Isso é fundamental, porque existem provas mais fáceis e mais difíceis. Não é só a nota bruta que importa, mas a distância para a nota de corte. Se antes eu tirava 50 e a nota era 70, e agora tiro 60 e a nota é 61, estou mais próxima. Essa análise me ajudava muito.”

Ela reforça que a comparação deve ser sempre com o próprio desempenho, não com o de outros colegas. “Cada pessoa tem seu ritmo. Se você não está evoluindo, tem que ajustar. Não significa que não vai conseguir, mas que precisa entender como fazer dar certo.”

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POSSE DO CARGO

Majoí assumiu o cargo em abril de 2024 e já veio direto para Umuarama. Hoje, à frente de uma das áreas mais sensíveis da Defensoria Pública, atua em defesa de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, com um olhar técnico, humano e comprometido com os direitos fundamentais. 

De acordo com a defensora, a experiência nesse pouco mais de um ano de atuação tem sido sensacional. Ela ressaltou que, desde o início, a expectativa era positiva, mas que não imaginava gostar tanto do trabalho. Para ela, atuar na Defensoria Pública tem sido uma realização pessoal. A defensora destacou ainda o encantamento pela cidade de Umuarama, que considera arborizada e acolhedora, com uma atmosfera que em muitos aspectos lhe remete a Maringá, o que lhe traz conforto por lembrar sua casa.

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Entre seus momentos preferidos está o passeio pelo lago, especialmente nas noites de lua cheia, quando a paisagem se torna ainda mais bonita. A proximidade entre o local de trabalho e a residência é outro ponto que ela valoriza muito.

Além da satisfação com o ambiente, a defensora elogiou a convivência com os colegas, que descreveu como profissionais dedicados e receptivos. Ela destacou o espírito amistoso da cidade, que para ela justifica o apelido de “capital da amizade”.

IMPORTÂNCIA DA DEFENSORIA PÚBLICA

Quanto ao trabalho em si, ressaltou a importância da Defensoria Pública não apenas para os usuários diretos, que são em sua maioria pessoas em situação de vulnerabilidade financeira, mas também para a pacificação social da comunidade. Segundo ela, a Defensoria atende grupos vulnerabilizados como mulheres vítimas de violência doméstica, crianças, adolescentes e idosos, e seu papel vai além da mera assistência jurídica, contribuindo para a educação em direitos e para a resolução de conflitos.

Ela também mencionou a parceria da Defensoria com faculdades e escritórios de aplicação do direito, que ajudam na judicialização das demandas e no atendimento à população. Destacou ainda a atuação em causas coletivas ou coletivizáveis, que fogem ao escopo dos escritórios tradicionais.

PROJEÇÕES PARA O FUTURO

Sobre os próximos passos, a defensora revelou o desejo de retomar a carreira acadêmica, especializar-se ainda mais e compartilhar seus conhecimentos por meio de aulas e palestras. Além disso, pretende continuar construindo e fortalecendo a instituição, aproveitando os investimentos recentes do Governo do Estado, que têm possibilitado a expansão da Defensoria. Ela espera trazer novos projetos para Umuarama, inspirados em iniciativas de outras cidades, para contribuir ainda mais com o desenvolvimento da cidade.

IMPORTÂNCIA DOS PAIS

Ao falar sobre a importância dos seus pais para sua trajetória, a defensora fez questão de destacar o papel fundamental que tiveram como incentivadores e apoiadores desde a infância. Ela lembrou que sempre teve liberdade para escolher seus interesses, com o estímulo constante à leitura e ao aprendizado, sem cobrança excessiva por desempenho. Mesmo quando desistiu das artes cênicas para cursar Direito, contou com o apoio incondicional dos pais, que sempre acreditaram no seu potencial, mesmo diante dos desafios.

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Por fim, ela falou sobre sua relação próxima com sua irmã mais velha, com quem tem uma relação muito intima. “Minha irmã é minha amiga, minha parceira. Ela ainda não veio para Umuarama, mas ainda irei trazê-la para conhecer a Capital da Amizade, concluiu.

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