Eliseu Auth
Não tem quem, normal, não se revoltou com a cena do policial branco dos Estados Unidos pressionando o pescoço de George Floyd, deitado de bruços, até asfixiá-lo. A revolta cresce mais porque era simples abordagem. De nada valeram as súplicas do pobre negro que dizia não conseguir respirar. O policial de Trump matou-o só porque era negro. Simples assim porque esse é o racismo lá do norte e que bota metástase por aqui e mundo afora.
Me criei lá na pequena Linha Salto, interior do Rio Grande, uma região de alemães. Na escola só tinha três colegas negros: Alvarino, Adão e Anulino. Adão era um dos meus melhores amigos. Papai tinha um compadre negro que se chamava Paulo Graus e morava na barranca do rio Santo Cristo. E o velho professor Nicolau Meinerz, muito religioso, não admitia discriminação. Foi nesse clima que aprendi que somos iguais em qualquer cor que tenhamos.
As ruas da América se enchem de protestos pacíficos contra o racismo e a truculência policial. E o mundo civilizado também está nas ruas. Talvez isso mude o mundo como quer a pequena Gianna, filha do negro assassinado. Pode que arranque o ódio das claques fanáticas da extrema direita e de supremacia racial branca, tudo gente que apóia governantes como Donald Trump. E aqui? Bom, aqui Bolsonaro também corteja as carapuças do extremismo. Se, no norte Trump bota a polícia contra os negros, aqui no sul, Bolsonaro nomeia para a Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que chamou os negros de escória.
As ruas reclamam pacíficas, tal como as manifestações de domingo aqui do Brasil que não querem racismo e nem ditadura. Tudo isso me leva a Castro Alves que denunciava a ignomínia da escravidão em versos. Os racistas deveriam ler ao menos um poema dele. Esse poeta maior que todos os outros, mamou na mãe preta de quem escutava tristes histórias. Ela, a mãe de leite o inspirou para escrever “O Navio Negreiro”, em palavras e rimas como ninguém mais vai rimar. Não tem poema igual no idioma do Camões das “Luzíadas”. Leiam-no, racistas do mundo inteiro. E aprendam a respeitar o sofrimento dos nossos irmãos negros. E, se botem de joelhos para os protestos.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).