Umuarama

HISTÓRIAS DE VIDA

De garçonete a futura médica: estudante se ‘vira nos 30’ para estudar Medicina em Umuarama

16/04/2024 09H48

Jornal Ilustrado - De garçonete a futura médica: estudante se ‘vira nos 30’ para estudar Medicina em Umuarama

Como quase tudo na vida, a história de Karina Fumagali Mileski começou com um sonho ainda na infância. E para a filha mais velha de pequenos agricultores de Santa Mônica, município a 80 km de Umuarama, havia um grande risco de ficar apenas no abstrato a carreira de medicina. Mas a menina cresceu e com ela, a determinação de transformar o sonho em realidade.

Hoje, no quarto ano de Medicina pela Universidade Paranaense (Unipar), Karina olha para tudo o que passou e tem o sentimento de gratidão, aos pais, amigos, aos conhecidos e ao irmão André Victor, que segundo ela, abdicou dos próprios sonhos para que ela pudesse viver o dela.

“Hoje é o André que toca a plantação de mandioca com meu pai, de onde consegue bancar a minha coparticipação no Fies. Ele não conseguiu continuar os estudos por isso, e minha maior motivação é poder recompensar ele”, confidenciou emocionada.

No próximo ano começa a atuar como médica residente e a tirar plantões, e pretende com o dinheiro que conseguir ajudar a família e dar a oportunidade para que André curse engenharia mecânica.

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POUCA GRANA

Mas a família consegue bancar apenas a parcela mensal do Fies, de pouco mais de R$ 1 mil. Aluguel, comida, roupa e todas as outras despesas correm por conta da própria Karina. Ela entendeu ainda no início do curso de Medicina, que se não se ‘virasse nos 30’ a faculdade não passaria de um sonho.

Como o curso é integral, as possibilidades de um trabalho eram limitadas. E foi assim que ela conseguiu o primeiro, de muitos empregos como garçonete. Em um restaurante de comida japonesa. Quando chegou a pandemia, Karina estava no segundo ano da faculdade e ela ficou sem trabalho após o fechamento obrigatório do comércio.

Foi neste momento que um de seus professores, o médico Luiz André Lins, a convidou para atuar como instrumentadora, o que permitiu ter uma renda fixa e que Karina continuasse os estudos naquele momento.

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ANJOS

De lá para cá, ela continua com uma rotina extenuante, com aulas durante o dia, intercalados com o trabalho como instrumentadora e a noite como garçonete. “E quando chego do trabalho ainda estudo um pouco”, explicou. Ela mantém uma rotina com no máximo seis horas diárias de sono.

Ao olhar para sua história, Karina, aos 29 anos, diz ter um sentimento de gratidão a Deus e a todas as pessoas boas que Ele colocou em seu caminho. Ela explica que há pessoas que conhecem a sua história, e muitas vezes a ajudam com compra de mercado, doação de roupas e calçados e que essa bondade a fortalece e a ajudou a amadurecer.

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O COMEÇO

A primeira vez que venho estudar em Umuarama, foi como bolsista no cursinho do Colégio Alfa. Foram 4 anos com o objetivo de passar em uma faculdade pública. “Nunca passei na segunda fase da federal. Cheguei a fazer vestibulares em faculdades particulares, mas para a minha família, mesmo com o Fies, isso não era uma opção” na época, relembra.

Com o psicológico e a autoestima abalados pelas frustração de não conseguir entrar em uma universidade pública, como muitos paranaense, viu na Argentina uma oportunidade para estudar Medicina. Frequentou por um ano a faculdade em Buenos Aires, mas a falta da família pesou e ela voltou para casa. “Durante todo o período em que fiquei lá não consegui ver minha família uma única vez. O dinheiro era contado”, explicou.

Hoje, diz ter orgulho de sua história e de suas conquistas. “Sinto orgulho do que conquistei e da forma como conquistei. Agradeço a Deus por ter me dado tantas oportunidades”, concluiu.