Umuarama

O PESO DO MERCADO

Crise na atividade leiteira deixa produtores da região em risco de falência

20/04/2020 14H42

Jornal Ilustrado - Crise na atividade leiteira deixa produtores da região em risco de falência

Os produtores de leite da região de Umuarama estão de mãos atadas com a crescente inviabilidade de continuar atuando no setor. Com o custo de produção aumentando a cada ano, atrelado ao aumento do preço da soja e do milho e a seca, agora os agricultores enfrentam a redução do valor pago pelos laticínios. As empresas alegam que a baixa no valor pago pelo litro do leite, se deve ao baixo consumo dos derivados, imposto pela pandemia do coronavírus.

Representando um grupo de produtores de leite da região, Pedro Thiago Fenato explicou que são diversos os fatores que inviabilizam a produção de leite na região neste momento e que começam a colocar em risco a saúde econômica de vários produtores. Tal cenário promoverá o endividadamente e falência.

“Nossa região vem enfrentando um deficit hídrico alto. Há três safras que venho enfrentando dificuldade para produzir comida para vacas, pois não chove o esperado. Com isso, vem o aumento do custo na produção do leite, pois temos que produzir o concentrado encarecido pela alta no valor do milho e da soja. A dificuldade de alguns Países em ter proteína ocasionou no aumentando do preço da saca do milho e da soja”, disse.

Junto com o problema da produção de alimento para as vacas veio a pandemia do coronavírus, ressaltou o produtor. “Dentro da instabilidade da econômica, algumas indústrias começam a fazer terrorismo com o produto. Dizem que vão atrasar pagamento, baixar preço, paga um pouco agora e depois o resto. Tudo isso, atrelado com a queda drástica no valor pago pelo litro de leite vem fazendo o produtor repensar a atividade”, explicou.

NO VERMELHO

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A realidade até o momento é que o produtor vem recebendo menos pelo litro do leito desde a segunda quinzena março. Conforme a diretoria da Cooperativa dos Produtores de Leite do Território Entre rio (Coopeler) de São Jorge do Patrocínio, com 210 cooperados, o preço do litro do leite pago pela indústria teve redução de R$ 0,25 e tem previsão para mais R$ 0,10 com o fechamento da primeira quinzena de abril. O resultado disso seria a quebra do produtor de leite.

“Fazemos parte de um grupo de produtores que entrega oito mil litros de leite por dia e havíamos acertado o preço de R$ 1,55 o litro. Porém na sexta-feira (17) e pagaram R$ 1,15. O custo de produção do meu leite é mais de R$ 1,35 hoje, então já estou trabalhando no vermelho”, alegou Fenato.

Ainda conforme Thiago Fenato, o valor aceitável pago pelo litro de leite ao produtor hoje seria de R$ 1,80. “O produtor que não tiver caixa vai sair da atividade. O problema é muitos estão endividados, pois investiram para produzir melhor e com qualidade. É um momento complicado da atividade leiteira, já que o valor pago inviabiliza continuar tirando leite”, desabafou.

MERCADO DOS DERIVADOS

Atuando no mercado do leite há mais de 10 anos, a Coopeler ressaltou que os laticínios atrelam a baixa no preço pago no litro de leite a redução no consumo de derivados. Hoje a produção do leite spot (utilizado para produção dos derivados) corresponde a 70% da cooperativa e o industrializado 30% na cooperativa.

Desta forma, com restaurantes, pizzarias, bares, lanchonetes e carrinhos de lanches fechados, devido as medidas de contenção para a transmissão do coronavírus, os laticínios alegam que ocorreu baixa acentuada no consumo dos derivados do leite, principalmente a mussarela. A situação ocasiona acúmulo de produto e queda no valor pago ao produtor.

Do outro lado vemos o preço do leite UHT (leite longa vida ou de caixinha) disparando para o consumidor, chegando próximo a R$ 4,00 em alguns supermercados.

CENÁRIO REGIONAL

A situação do produtor de leite afeta toda uma cadeia econômica, explicou o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (DERAL) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB), Antônio Carlos Fávaro. Hoje na região são mais de 1 mil produtores de leite, só em Umuarama são 400 famílias vivendo do leite, e a quebra do setor representaria menos dinheiro sendo investido nos setores do comércio, promovendo deficit na geração de emprego e renda.

Fávaro alerta que o fechamento de abril será preocupante para a atividade leiteira, pois o produtor terá que gastar para manter a produção e com isso começará a reduzir a retirada de leite. A situação inviabiliza a atividade, uma vez que gera queda na renda da empresa rural. “Podemos começar a perceber uma falta de leite no mercado”, ressaltou.

Ainda segundo o engenheiro, o produtor não pode ficar no prejuízo, pois seria mais oneroso para o Estado tentar reerguer os produtores falidos, ao fim da pandemia do coronavírus, do que idealizar um complemento de custo, se fosse o caso. “É preciso urgente de uma política pública para apoiar os produtores e é o que estamos repassando para Curitiba. Não se sabe se seria a idealização de um programa de compra de leite em pó ou complemento de renda, mas algo precisa ser feito de imediato”, noticiou Fávaro.