Páscoa
Há 75 anos atuando como sacerdote, frei Clemente Vendramin, 96 anos, da Paróquia São Francisco de Assis de Umuarama, diz que nos 80 anos de vida religiosa nunca passou por uma situação como a imposta pelo coronavírus, com igrejas fechadas para o público. Mas com a sabedoria que os anos lhe rendeu, o clérigo busca outro olhar para tudo o que vem ocorrendo e acredita que a Semana Santa da forma que ocorreu fortaleceu os vínculos dos cristãos com a fé.
Na igreja Matriz, em Umuarama, frei Clemente falou ao jornal Umuarama que nem de longe presenciou algo parecido com a situação em que a pandemia do coronavírus impôs aos povos. “Nem que fosse por uma semana vivi isso. É absolutamente fora de tudo que possa pensar e imaginar. Nunca pensei que no fim da vida fosse vivenciar uma coisa dessa. Imagina a tristeza do povo que não poder participar das celebrações da Semana Santa, que é eixo da Igreja. Nós imaginamos uma multidão ao celebrar, mas vemos os bancos vazios, não existe a poesia. É pela fé que estamos celebrando”, disse.
Apesar do isolamento social, o frei ressaltou que as celebrações até a Páscoa (hoje) foram e serão feitas com todo capricho e que os fiéis acompanhem pelos meios de comunicação “O povo precisa estar consciente de que a participação virtual na sua residência diante de Deus é uma participação real, pois para Deus nada é virtual, tudo é real” ressaltou.
Mesmo com o distanciamento das pessoas e com as igrejas vazias, Frei Clemente Vendramin ressalta que a situação favorece a vivência da família. “A família que vive unida e reza unida, nunca será desfeita. Além disso, quando voltarmos com as celebrações para o público, o povo vai compreender a grandiosidade do que não estava tendo, valorizando muito mais o que está tendo”, falou.
No sentido da Semana Santa, Frei Clemente ressaltou que a Páscoa de Jesus é o eixo de toda liturgia da Igreja. “Na Semana Santa temos quatro pontos importantes a Quinta-feira com a instituição da eucaristia e do sacerdócio. A Sexta-feira Santa com a Paixão e Morte de Jesus, que representa o desfecho da vida de Jesus neste mundo, com a morte na cruz. Essa morte que desafia nossa fé, pois como podia Jesus acabar sua vida terrena dessa forma? Mas a fé nos diz que ele escolheu livremente: ‘Ninguém tira a minha vida, mas eu a dou por que quero’, foi a palavra dele”, falou.
No sábado, com a morte de Jesus, é um dia sem celebração, sem nada, pois representa o túmulo, disse o Frei. “O corpo está morto em um túmulo emprestado e ficamos aguardando. O que fazer no sábado? Levar nossa vida, mas na expectativa do que vai acontecer um momento de reflexão interna. O grande mistério se completa com a ressurreição de Jesus no domingo, a Páscoa do Senhor” explicou.
Nesta caminhada de Jesus durante a Semana Santa, o cristão entra em um modo de viver diferente, pois segundo Frei Clemente, este é o período do ano que se vive mais forte os sentimentos e a presença de Jesus “Ficamos envolvido até emocionalmente com a vida e a missão Jesus”, finalizou.