Umuarama

Consciência Negra

Coletivo Zumbi e Dandara ecoa a luta contra o racismo em Umuarama

19/11/2018 08H42

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Novembro traz o tema Consciência Negra, mas em Umuarama o Coletivo Zumbi e Dandara debate, ensina e promove reflexões de pontos abordando o assunto todos os dias do ano. Tendo a frente jovens engajados, o coletivo está sendo a conexão entre os negros no processo de aceitação em meio a uma sociedade, que o racismo ainda age de forma viva e também velada.

Segundo a coordenadora Ingrid Alves, o assunto Consciência Negra vem a tona em novembro, mas isso precisa ser quebrado e já vem ocorrendo nas escolas estaduais, com a equipe multidisciplinar e o trabalho da cultura afro dentro das salas. Junto a educação, o coletivo chega em outra frente para abordar assuntos como o racismo e a aceitação do negro.

“O coletivo Zumbi e Dandara acredita que a luta é contra o racismo e não contra brancos, então toda e qualquer pessoa que esteja disposta a se desconstruir, respeitar um espaço e um protagonismo negro é bem-vindo. O coletivo tem sua base na filosofia Ubuntu, com a frase juntos somos mais fortes”, disse Ingrid.

Por se tratar de um assunto complexo, que envolve questões psicológicas, sociais e familiares o coletivo abrange diversas frentes de atuação na sociedade. “Por que se fala tanto de racismo? Algumas pessoas acham que não se deveria falar para apenas esquecer. Mas por meio da fala, do estudo, é que percebemos quanto o racismo está no nosso meio de forma velada e sutil. O racismo não pode ser normal ou ser tratado como uma brincadeira, temos que entender isso”, explicou a entrevistada.

Nikita de Freitas, que também participante do Coletivo, fala que situações envolvem o racismo estão se dissipando, como as meninas e os meninos aceitando o ser negro e assumindo sua identidade black. Mas no campo do trabalho, alguns empresários ainda não entenderam a Consciência Negra. “Ouvi relatos de um certo profissional da cidade, que ele jamais contrataria uma mulher de cabelo cacheado ou crespo, pois não condiz com o espaço dele. Por ser deselegante ou desalinhado.

Outro assunto levantado por Nikita é a solidão da mulher negra. “A mulher negra é a que menos casa, conforme o IBGE. Isso vem de uma sexualização muito forte da mulher, como temos o exemplo da Globeleza. Muitas vezes é isso que o homem vê, a negra só serve para relação sexual e prazer”, explicou.

Aceitação

As entrevistadas lembram que as palavras negro ou preto trazem uma carga negativa grande. Tal carga criada pela sociedade atinge crianças, jovens, adolescente e adultos negros e esses acabam não aceitando a identidade. “Algumas pessoas têm medo de falar: ‘oi preta ou negra’, pois foi colocado como algo ruim. O ruim é você apontar e falar: seu preto! De forma a humilhar as pessoas. Isso é tão forte que alguns negros não aceitam ser chamados negro, pois a sociedade colocou como isso sendo negativo”, ressaltou Ingrid.

Hoje também ativa no Coletivo Zumbi e Dandara, Jessica Oliveira Borges Ferreira tem um espaço de beleza dedicado ao cabelo crespo e segundo a entrevistada, sua aceitação e desenvolvimento pessoal e profissional veio com o Coletivo. “Eu estava desorientada e quando resolvi entrar no movimento minha vida pessoal e profissional melhorou. O coletivo segue esse caminho de ensinar e transmitir o conhecimento, reflexões e referência por meio de exemplos de união, pois juntos somos mais fortes, indiferente da cor”, noticiou.

Em seu salão, Jessica conta que já presenciou muitas mulheres negras chorando pela opressão da sociedade. “Tenho cliente que senta na minha cadeira e chora, pois além de ser oprimida pela sociedade é também em casa. Exitem mãe que tem medo da filha sofrer opressão e acaba oprimindo tentando proteger. Muitas dizem: prefiro minha filha alisando o cabelo para não ser xingada”, contou.

Retomando a identidade

Neste cenário o Coletivo Zumbi e Dandara vem realizando palestras em escolas, marchas e o arrastão cultural, que é realizado na Praça Miguel Rossafa, às 19 horas, todo o segundo sábado de cada mês. “Para 2019 a ideia é nos organizar em Ong para levar mais conhecimento à população. Também queremos resgatar o carnaval de Umuarama, para isso estamos buscando parceiros como a Prefeitura” noticiou.