Câmaras nas fardas!

Ficou feio para o governador de São Paulo. A política contrária às câmaras corporais na farda policial e o apôio aos métodos truculentos da polícia na baixada santista, enlamearam a corporação paulista que já foi exemplo para as demais. Sei, a maior parte da polícia é civilizada e respeita os cidadãos que deve proteger. Agora, foi horrível a reação do governador Tarcísio aos reclamos dos órgãos de direitos humanos que denunciavan abusos, pediam punição e imploravam por socorro. Não podia ser pior o que disse: “Podem ir à ONU, aos direitos humanos ou ao raio que os parta, que não estou nem aí…” O que veio depois, pode ter tudo a ver com as palavras do chefe maior da polícia que baforou um ar com cheiro de incentivo à truculência.

Vi o que nunca tinha visto: Um policial de São Paulo, armado para proteger os cidadãos, arremessou um cristão de cima de uma ponte. O cidadão teria desatendido uma abordagem policial. É o fim da picada essa sanha de sadismo fardado. Se não é o método da corporação, o fato é real e está à nossa frente. Coincidência ou não, vieram outros episódios que arrepiam a alma: Onze tiros pelas costas de um cidadão negro que furtara o mercadinho e fugia; Chutes e tiro mortal num estudante de medicina desarmado que se debatia sem oferecer o menor perigo; policial dando ré no carro e atirando por sobre crianças que o advertiram sobre uso de luz e seta; Chutes em motoqueiro caído e agressão à sua mulher. E por aí vai. A insanidade já veste roupas de rotina e faz patê de um saldo absolutamente negativo para a polícia de São Paulo que já foi orgulho nacional.

Depois do desastre dessa política do “atira antes e pergunta depois”, o governador voltou atrás e defende câmaras na farda da polícia. É o mínimo que deveria ter feito bem antes. Elas vão proteger os bons policiais e escancarar os maus. Evitarão simulações para amoitar crimes e mostrarão a ação policial tal como foi. Câmaras serão testemunhas de defesa de quem agiu dentro da lei e acusarão quem, fora da lei, foi truculento ou assassino. Assim, deveriam ser obrigatórias no país inteiro. Que venham as câmaras nas fardas!

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).