NO ALVO
A partir de 1º de fevereiro, o sobrenome Bolsonaro não vai ficar restrito ao Palácio do Planalto. Marcará presença, simultaneamente, nos painéis de votação da Câmara dos Deputados e do Senado.
Além de inusitada, a onipresença da família no Executivo e no Legislativo tem provocado dúvidas entre parlamentares experientes e estreantes sobre qual será o papel do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filhos de Jair Bolsonaro (PSL).
Além do temor de que o excesso de interlocutores gere ruído na comunicação com a Presidência, há o receio de que a presença dos dois acabe por esvaziar o papel dos próximos líderes de governo e até mesmo o dos futuros ministros responsáveis pela articulação política, Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).
Ainda durante a transição, parlamentares dizem, reservadamente, tentar entender como funcionará o próximo governo que, apenas na semana passada, começou a se aproximar das bancadas dos partidos. Até então, o diálogo se restringia a bancadas temáticas, como a evangélica.
Um experiente articulador avalia que a presença dos filhos no Congresso pode facilitar a relação com o Planalto desde que eles não atropelem os canais institucionais.
Esta não é a primeira vez que um presidente da República tem um filho no Parlamento. Sarney Filho (PV-MA) era deputado pelo PFL quando José Sarney (MDB) comandou o país, de 1985 a 1990.
Mas, segundo o deputado, a divergência de ideias impediu que ele fosse um interlocutor informal de seu pai.
“Eu não tinha relação de liderança nenhuma porque a base de papai era muito mais conservadora do que eu. Eventualmente, uma pessoa ou outra queria falar com ele e pedia para ver se eu conseguia uma audiência e, às vezes, eu conseguia”, lembra Sarney Filho.
Flávio Bolsonaro afirma descartar a possibilidade de ser líder do governo no Senado, mas já se coloca como interlocutor ao lado de quem for escolhido para a função.
“Estou chegando agora, mas, certamente, por ser um senador e ter acesso direto ao presidente [Bolsonaro], e aos ministros, eu vou estar junto com esse líder do governo que for escolhido no consenso para levar as demandas legítimas dos senadores a quem possa resolvê-las”, disse o senador eleito, na terça-feira (4), em sua primeira visita a uma sessão da Casa após a disputa.
Durante a passagem pelo plenário do Senado, foi cumprimentado por futuros colegas de diversos partidos e chegou até a conversar por telefone com alguém a pedido do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), de saída por não ter conseguido se reeleger.
Eduardo Bolsonaro também já é alvo de assédio. De olho na indicação da Câmara para o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), candidatos ao posto têm procurado o deputado reeleito.
Apesar de Bolsonaro já ter escolhido o diplomata Ernesto Araújo para comandar o Ministério de Relações Exteriores, foi Eduardo quem falou recentemente em nome do próximo governo fora do país.
“O que vim fazer nos Estados Unidos é também dar os primeiros passos no resgate da nossa credibilidade e mandar uma mensagem clara de que não seremos mais um país socialista. E estamos bem animados de estarmos tão próximos dos Estados Unidos”, disse Eduardo em entrevista à TV americana Fox News.
Mas a atuação do deputado como porta-voz informal do governo tem gerado dor de cabeça para a futura equipe do Palácio do Planalto.
A investidores em Washington, por exemplo, Eduardo disse que o governo talvez não conseguisse aprovar a reforma da Previdência.
Na mesma viagem, em novembro, anunciou que a mudança da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém estava decidida e que era uma questão de tempo.
As declarações no exterior incomodaram integrantes da base aliada de Jair Bolsonaro.
No fim desta semana, Eduardo protagonizou nova polêmica ao envolver-se em bate-boca no grupo de WhatsApp que reúne a bancada do PSL.
O clima tenso levou Bolsonaro a convocar uma reunião com a bancada na quarta-feira (12) para apaziguar os ânimos. (Folhapress)