Assistência
Existe uma grande diferença entre dar esmola e transformar uma vida. Os trocados que uma pessoa em situação de rua recebe no semáforo, na praça, no supermercado ou na frente da lanchonete pode resolver sua necessidade momentânea. Mas a atenção especializada da equipe de assistência social do município muda a perspectiva de vida e a realidade de quem aceita esse atendimento. Porém é necessário querer mudar.
Foi o que fez o senhor Jaime Florêncio da Silva, que faz 70 anos agora em março e há mais de 30 vivia nas ruas. Originário de Cianorte, ele perambulava por cidades da região e até fora do Estado. Em 2014 começou a circular por Umuarama e em julho do ano passado procurou ajuda no Centro Pop, um serviço do município voltado à população que vive na rua.
“Ele nem tinha documentos pessoais, além da certidão de nascimento. Não tinha renda, não recebia nenhum benefício social – apesar de ter direito – e sobrevivia de esmolas. Analfabeto e com dificuldades de se comunicar, seu Jaime foi um desafio para a nossa equipe, mas hoje ele está transformado”, conta o coordenador do Centro Pop, Roger Bruno Giopato.
A “transformação” significa que o ex-morador de rua hoje tem casa montada, uma cama pra descansar e na cozinha uma geladeira repleta de alimentos. A renda não vem mais de esmolas, mas do Benefício de Prestação Continuada (BPC) a que ele tinha direito desde os 65 anos. Hoje, graças ao apoio que recebeu, seu Jaime tem RG e CPF, paga o próprio aluguel (de R$ 450 mensais em uma casa de fundos na Praça Tamoio), abastece sua geladeira e não abre mão do pão com mortadela e do ‘pingado’ que compra quase todas as manhãs numa panificadora perto de casa.
A secretária municipal de Assistência Social, Adnetra dos Prazeres Santana, relata que esse é apenas um dos muitos exemplos de mudança de vida, proporcionados pelo trabalho social do município. “São vidas que não dependem mais de esmolas porque aceitaram a mudança, o acolhimento e a orientação com profissionais especializados e comprometidos. A esmola tornou-se um problema em nossa cidade, pois na maioria dos casos serve apenas para sustentar vícios. As abordagens chegam a ser intimidadoras”, avalia a secretária.
Em vez de dar esmolas, Adnetra sugere que a população oriente os pedintes a procurar os serviços de apoio do município. Com estruturas próprias e parceiros, a Prefeitura oferta alimentação (café da manhã, almoço e jantar), banho, pouso (temporário), assistência médica e psicológica, encaminhamento para tratar dependência química, qualificação profissional e vagas de empregos, além de passagem de ônibus para quem quer voltar para sua casa.
“A história do seu Jaime mostra que a política pública de assistência social bem articulada consegue dar condições de uma pessoa ter sua vida restaurada. Seu Jaime não perdeu nenhuma das oportunidades que lhe foram apresentadas, por isso tudo deu certo” acrescenta a secretária Adnetra.
Os serviços ofertados pela rede socioassistencial à população em situação de rua contam com uma equipe técnica completa, com psicólogos e assistentes sociais, visando garantir direitos muitas vezes violados. “Com um trabalho sério é possível resgatar essas pessoas da mendicância. Por isso é importante a comunidade encaminhá-los aos serviços ofertados em nossa cidade. Esmola não gera oportunidades, apenas a continuidade da situação. Já um trabalho bem-feito, sim”, acrescentou o prefeito Hermes Pimentel, que tem na atenção social uma de suas prioridades de gestão. “Seu Jaime é prova viva disso”, completou.
A equipe do Centro Pop é composta por duas assistentes sociais, uma psicóloga, uma estagiária, três educadores sociais e o coordenador, além da equipe de serviços gerais. A sede fica na Avenida Rio de Janeiro, 4435, esquina com Avenida Flórida (Zona 2) e atende pelo fone (44) 3906-1070. Dispõe também de WhatsApp (44 98457-1260). A equipe realiza abordagens diárias de pessoas em situação de rua, oferecendo a estrutura para acolhimento e orientação. Infelizmente, nem todos aceitam o atendimento e preferem a mendicância, seja pelo retorno financeiro ou pela suposta ‘liberdade’.
“Umuarama possui uma estrutura capaz de atender a todos que vivem em situação de rua. Mas é importante que aceitem o nosso apoio”, finalizou a secretária Adnetra. Pelas estimativas do Centro Pop, cerca de 150 pessoas vivem hoje nas praças e ruas da cidade – uma população flutuante, já que muitos vivem em trânsito constante, indo e vindo entre cidades da região.