As lições da história

Eliseu Auth

Eu gostava das aulas de história. Lembro até dos trejeitos dos meus professores como o Padre José Maria Engels, um alemão que fora capelão militar na primeira guerra mundial. Ele citava Calígula, Nero, Stalin, Lênin, Hitler e Mussolini como exemplos para não seguir. E dizia suas razões ideológicas e definia que eram “maus até a medula”. Depois suscitava um debate contra os extremismos. Até parece que antevia o Brasil de hoje. Me impressionava o seu português fluente com “erre” gutural. Também lembro das muitas vezes que fui seu coroinha em missas que rezava. Ele gostava do vinho de missa, tanto que pedia duas galhetas para consagrar. Ao final agradecia e traçava uma cruz na testa. Tanto eu gostava de suas aulas que me licenciei em História e tive a honra de lecioná-la nos Ginásios estaduais e Escolas Normais de Florestópolis e Porecatu, no norte do Paraná.

Olhar a história e aprender suas lições é de suma importância. Nela há titãs para o bem e para o mal. Teve ditadores cruéis, mas também registrou governantes com bom senso. Nem são tantos porque até o iluminismo, em regra, o que tínhamos era o obscurantismo. Quem podia mais chorava menos.

A filosofia e seus pensadores, correntes, escolas e academias suscitou uma mundividência civilizada. E fez olhar para a dignidade do ser humano como fundamento axiológico. Trouxe valores como a liberdade e a igualdade. Tudo foi lento, mas já eram ventos de civilização, ainda que em salpicos.

Aqui estamos nós. No país e no mundo, divididos entre os que querem voltar ao império dos tiranos e os que defendem o império das leis. Só a democracia tolera esse debate. Não somos inimigos nem máquinas que devam ser aperfeiçoadas. Queremos dignidade para todos. Somos homens que gostam de rir e de chorar. Desejo um Natal de muita fraternidade a todos. E que o Cristo que nos mandou amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como Ele nos amou, nos inspire, ilumine e faça aprender as lições da história.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).