Eliseu Auth
O ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” conhece este raciocínio que manda deter o braço assassino do arbítrio e da truculência: “Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem. Pisam as flores e matam o nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa e, conhecendo nosso medo, rouba-nos a lua e arranca-nos a voz da garganta. Porque nunca dissemos nada, já não podemos dizer nada”. Faz todo o sentido. O método da tirania é esse mesmo. Começa com flor e termina no horror. A quebradeira do oito de janeiro de 2023 que pretendia justificar a intervenção das Forças Armadas foi ato pensado da trama golpista. Não foi fato isolado, mas estratégia planejada e posta em prática pelos extremistas.
Eles tinham método. Para mentir que eram patriotas, enrolaram os vândalos na bandeira nacional e mandaram gritar liberdade e “deus, pátria e família”. Até bíblia tinha lá. E dê-lhe marreta, vidro quebrado, porta arrancada e fezes esparramadas. Tudo um espetáculo de horror e de profanação explícita.
Pasmem! Tem quem gostou dessa indecência. Ninguém me contou. Eu li um comentário infeliz de uma pessoa que até é do meu relacionamento e que choramingou que eram coitadinhos “desarmados até aos dentes”. “Pessoas inocentes e puras…” Meu Deus! Ainda sugeriu um filme, tipo “As vítimas do 8 de janeiro”. É mesmo? Vítimas do quê e de quem? Esses são teus heróis, meu caro escrevinhador? Perdeste o juízo e queres justificar o injustificável?
Não! Ninguém foi para Brasília porque não tinha o que fazer em casa. É alienação ou arrematada má fé, dizer que a quebradeira foi coisa banal e fato isolado. Ela foi planejada como recurso da sanha golpista que visava provocar a intervenção militar. É parte de uma trama ousada que ensaiou matar o Ministro Alexandre de Moraes, baluarte da Democracia na condução do TRE, bem como eliminar o presidente e o vice eleitos para implantar a ditadura.
Agora, a Justiça precisa botar atrás das grades quem tentou o golpe. Todos! Com ou sem farda! Se isso não for feito, os inimigos da lei e da ordem tentarão agir de novo. A punição exemplar impedirá que nos arranquem a voz da garganta e ainda vai preservar as flores no jardim da Democracia.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).