PARQUE INDUSTRIAL
Era manhã do dia 19 de agosto de 2019 quando Umuarama recebeu a notícia da morte do mestre em jiu-jitsu e judô, Tomeya Sasahara. Ele foi vítima de um grave acidente de trânsito na rodovia BR-277, em Palmeiras (PR). Tomeya foi o criador e coordenou por anos do Projeto Social Anjos do Tatame, que pertence a Associação Vida e Solidariedade – da Dona Maria da Sopa. O projeto atendia crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos em vulnerabilidade social no Parque Industrial e bairros vizinhos.
A morte de Tomeya gerou comoção na comunidade, principalmente entre os alunos, já que muitos consideravam o professor como pai. A perda fez com que o Projeto Social Anjos do Tatame fosse interrompido.
Após a comoção do falecimento, a paralisação das atividades do projeto foi por pouco tempo. No mesmo ano, o sensei Douglas Hara decidiu dar continuidade ao Anjos do Tatame, trazendo esperança e alegria para os alunos. O professor tem 40 anos, é casado e pai de quatro filhos. Ele mora em Nova Olímpia, onde possui uma academia particular. Além das aulas voluntárias em Umuarama, Hara dá aulas de jiu-jitsu em Tapira, Cidade Gaúcha, Nova Olímpia.
Hara explica que nasceu em Umuarama e com 14 anos foi para o Japão, onde aos 16 anos conheceu o jiu-jitsu por meio de um amigo. “Foi amor à primeira vista, porque eu me encontrei. Me deu força para encarar a vida como ela é. Me ensinou que a gente não pode desistir, que temos que enfrentar as adversidades de cabeça erguida”, disse.
Com pouco de treinamento, Hara explica que começou a competir no Japão, participando do Campeonato Japonês, Asiático e regionais, conquistando diversos títulos.
Quatro anos depois de sua chegada ao país asiático, Hara retornou para o Brasil. Em Umuarama o sensei conheceu o professor Tomeya e passou a ser treinado por ele. Além de aluno e professor, ambos passaram a ser amigos. “Foi aí que conheci o Projeto Social Anjos do Tatame, pois sempre o Tomeya me levava para visitar o projeto com ele”, explica o Hara.
Com a morte de Tomeya, Hara refletiu e teve a conclusão que o projeto não poderia parar. Foi então que comunicou os moradores que o Projeto Social Anjos do Tatame ia continuar, como uma de dar sequência ao trabalho do amigo e professor Tomeya Sasahara.
“Eu sentia que não poderia parar. O Tomeya amava essas crianças, amava levar o jiu-jitsu como forma de transformação de vida. Foi pensando nisso que fui impulsionado a seguir com o projeto”, lembra.
Atualmente o Projeto Social Anjos do Tatame reúne cerca de 60 alunos, sendo crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos. De acordo com o professor, há apenas limite de idade mínima para participar das atividades do projeto, que é de 4 anos. Além disso, alunos de bairros próximos também têm sido atendidos pelo projeto, como São Cristóvão e Arco Íris.
As aulas são realizadas todas as terças-feiras, quartas-feiras e sábados, no salão comunitário do bairro. Nos dias de semana os treinos são divididos em três períodos – manhã, tarde e noite. No período da manhã as aulas começam às 10h e vai até as 11h30. No período vespertino o início é às 15h30, com término às 17h. À noite, as aulas são das 17h às 20h. Já nos sábados as aulas ocorrem apenas no período vespertino – das 15h00 às 17h.
Miguel Eduardo Vicente Rodrigues tem 12 anos de idade. Morador do Parque Industrial, ele é um dos alunos que tem se destacado pelo Projeto Anjos do Tatame. O garoto estuda no período da tarde e participa dos treinos de jiu-jitsu de manhã ou a noite, mas na maioria das vezes ele conta que vai nos dois períodos. “O objetivo é treinar muito, manter a mente ocupada e quem sabe se tornar um grande lutador em competições nacionais e até mesmo mundiais”, diz.
Miguel já coleciona títulos importantes. Somente esse ano ele participou de três competições, sendo elas Copa Toledo, onde ficou em 3º lugar na categoria pena, Copa da Amizade, 1º lugar categoria pena e Copa Campeões, em Maringá, onde também subiu no pódio mais alto da competição em sua categoria.
O garoto e outros seis alunos do projeto se preparam para participar do Campeonato Mundial, que acontecerá no mês de novembro no ginásio do Ibirapuera em São Paulo. “Expectativa é grande, tenho treinado duro pra chegar lá e fazer bonito”, relata.
Para irem ao Campeonato Mundial, os alunos e a direção do projeto realizaram a venda de rifas. Segundo o professor Hara, os gastos com inscrições, transporte, alimentação e hospedagem são altos, não tendo o projeto condições de bancar tudo. O valor arrecado com a venda das rifas ainda não é suficiente, por isso, os alunos contam com a colaboração da comunidade.
Hara explica ainda que além do pouco recurso para bancar inscrições e viagens dos alunos para competições, muitos não possuem kimono, que é a roupa que os lutares usam, composta de calça, blusa e uma faixa. O salão onde estão sendo realizado as atividades também carece de reformas, pontuou o treinador. “Tudo isso que fazemos não é pra nós, é pra própria comunidade. Muitos desses alunos chegam aqui sem perspectiva alguma, mas com pouco tempo já mudam suas percepções em relação a vida. Chegam de um jeito, mas saem transformados. Esse é nosso objetivo, trazer luz e esperança para eles”, destacou Hara.
Interessados em ajudar o projeto podem entrar em contato com Douglas Hara pelo (44) 9819-7315 ou com a própria Associação Vida e Solidariedade através do (44) 3639-3688.