A vida e suas perdas

Eliseu Auth

Sábio e santo, o meu orientador espiritual no seminário era o Padre Leoclides Basso. Suas lições nunca se apagaram. A vida é feita de perdas e ganhos, vitórias e derrotas, ensinava. Era gremista como eu e repetia que derrotas em grenais, perdas de entes queridos e dificuldades não eram o fim, mas o recomeço que busca a vitória final que a vida da gente precisa querer.

Tem sentido. A peregrinação terrena da gente é mesmo feita de perdas e ganhos. Mas são as derrotas e as perdas que dóem mais. Ficamos tristes por perder a copa, mas isso é fugaz. Terá outra e resta torcer para os hermanos argentinos. Há perdas que não se vão. O ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado”, com certeza tem experiências próprias. Pelo respeito que lhe tenho, sem pejo de ser piegas, quero partilhar com ele a perda da minha irmã Romi, que nos deixou e arribou aos céus, lá em Belo Horizonte. Irmã paulina e teóloga que era, deixou ao meio uma bíblia em fascículos que escrevia com sua equipe litúrgica, tudo supervisionado pela doutrina da Sé e acompanhado pelo Vaticano. Com a partida de Romi também foi amiga das horas difíceis e incertas. E saiu de cena a orientadora, a conselheira e a professora. Às favas a pieguice. Deixo o coração falar, na atenuante da sede de querer homenageá-la. De minha parte, só quero compartilhar o luto da perda que não se vai.

A vida segue. Dizem os que tratam do conhecimento que ela passa e precisa ser vivida com dignidade. Um dos professores de filosofia que tive era estudioso de Immanuel Kant e via no filósofo o reconhecimento da centelha divina que estaria na “Crítica da Razão Prática”, escrita depois da “Crítica da Razão Pura”. Nela, Kant apontou valores para o proceder na vida. Deu um conselho explícito no seu imperativo categórico: “Age em todas as ações de modo que a norma do teu proceder possa ser erigida em lei universal”. “Procede sempre de modo que trates a humanidade como um fim, tanto na tua pessoa como na dos outros, e nunca te sirvas dela como um simples meio”. “Age de tal forma que a máxima de tua vontade possa sempre valer como princípio de lei universal.” Esse pode ser um ideário para a vida e suas perdas.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).