Eliseu Auth
Há fanáticos por armas. Entre eles temos líderes e governantes como o “chefe do norte” e o nosso presidente que cantam loas às piores conselheiras. A “Folha de São Paulo” de primeiro de maio condenou, e com razões de sobra, a obsessão do presidente Bolsonaro por armas. Não é que ele quis revogar portarias do Exército que estabelecem regras para rastreamento e identificação de armas de fogo? Isso dificultaria o trabalho dos órgãos de segurança em detectar as origens de armamentos e munições. Esse tiro no pé, felizmente está sendo contestado pelo Ministério Público Federal.
Todas as pesquisas mostram que menos armas em circulação dão em menos homicídios e menos violência. No bom senso, penso que só em casos isolados como propriedades rurais e grotões distantes do convívio social podem até admitir a flexibilização do Estatuto das armas, para defesa própria. Ali, e só ali. Mas, isso não deve ser regra no convívio de multidões.
Diz a experiência de quem viveu nas lides criminais de nossos foros e tribunais que armas de fogo são péssimas conselheiras. Portá-las, então, é um desatino que incita a violência e chama o crime. Conto um caso real, só para exemplificar tantos e tantos outros: Certo moço de berço e alma generosa, inda lembro seu nome, tomava uma cerveja de fim de tarde na companhia de um amigo. Em discussão trivial por palavras mal colocadas, sacou do revólver e matou o amigo que o desafiara a atirar. Agiu por ímpeto e sob violenta emoção. Depois, foi tarde para chorar. Ninguém quis acreditar e nem conto quanto ele sofreu e quanto sofreu a família benquista e bem vista por todos.
Nas advocacia criminal e no exercício da promotoria conheci casos e mais casos. Em muitos, atuei por dever do ofício. Quase todos eles não teriam acontecido se a arma não estivesse lá. O sujeito que porta a arma, ainda que seja de boa índole, sem querer, alimenta o inconsciente de coragem, valentia e intolerância. Esse é o terreno preferido para o crime casual e de ímpeto. Para quê, carregar arma na cinta? Ela é a pior das conselheiras.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).