Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

A oferenda de animais

09/04/2019 08H16

Deu pano pra manga a decisão do Supremo que julgou legal o sacrifício de animais imolados em cultos religiosos afro-brasileiros. Houve quem não gostou e até quem propôs ir às ruas para protestar. Seria um acinte imprimir sofrimento aos animais para satisfazer um sentimento religioso.

Religião, cada um tem a sua. A minha, vem de berço. Nela encontro sentido na vida e conforto nas angústias e questionamentos da existência. Claro que tenho um balaio de restrições a certos ritos e liturgias de crenças, credos, seitas, igrejas e religiões. Há coisas que intrigam, mas fico restrito ao inconformismo. Uma delas é o comércio que explora a boa fé das pessoas. Há espertos que enriquecem em cima disso. Cobram dízimos e contribuições em nome de um Deus que estaria exigindo o que embolsam para garantir a salvação. Cada um é cada um e há que respeitar. Mas, o meu senso crítico põe totais restrições. Ele diz que Deus quer o bem e não precisa dos bens. Então, torço que as pessoas não dispensem a razão para fazer suas escolhas.

Volto ao tema que quero partilhar com o ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado”. Não é preciso ir às ruas contra a decisão do STF. Até porque ela é coerente. Seguiu a premissa do antropocentrismo. Nele, o ser humano é o centro da criação. Para satisfazer suas necessidades pode dispor dos animais não racionais. As necessidades podem ser de alimentação, econômicas, lúdicas espirituais ou outras. Aos que têm a pretensão de ditar normas em nome de Deus, digo que está na Bíblia que invocam. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade que ninguém é. Começo por dizer que o julgado não autorizou o sofrimento de animais pelo mero sofrimento em si. Há um sentido nele que é a fé de quem faz a oferenda. Isso tem lógica ainda que alguém possa não concordar. No fundo está a homenagem do homem ao Criador. Poderia não ser com o sacrifício de animais? Poderia, claro. Mas, se alguém preferir essa prática milenar, há que respeitar a oferenda de animais.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).