Eliseu Auth
Eliseu Auth
Com a prisão de Crivella, prefeito do Rio de Janeiro, que pousava de “Catão da moral”, como “bispo” da Universal, li esta manchete do “Estadão” de 23 deste mês: “Democracia desmoralizada”. Claro que discordo. E vou dar as razões que compartilho com o ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado”.
Volto no tempo e pouso na Grécia do século V, antes de Cristo. Foi por lá que Clístenes levou adiante as idéias democráticas de Sólon, legislador de Atenas que já diminuíra os impostos dos cidadãos mais pobres e escrevera uma constituição de ares menos autoritários. Nesse clima surgiu, ainda claudicante, o regime democrático para governar a “Pólis”. Se a razão dos governos era cuidar das pessoas, nada mais justo que dar vez e voz a elas. E o interesse público passou a ser discutido na praça pública. Nada mais justo. O novo regime passou a ser uma resposta aos governos tiranos.
A democracia estava na agenda do pensamento ocidental para nunca mais sair. Governos tiranos continuaram a existir, humilhando os cidadãos, escravizando pessoas e acumulando privilégios. Mas, há alternativa. Passam filósofos, o helenismo, o cristianismo, a escolástica, a filosofia moderna, o empirismo britânico, o iluminismo e o romantismo tão bem tratados na “História do Pensamento Ocidental” de Bertrand Russell. Em tudo assoma a idéia de que o poder deve vir do povo e não do ditador.
E cá estamos nós, entoando loas à democracia que faz o povo eleger seus governos. Se algum eleito não for digno, isso não é culpa da democracia. Vem da alma do agente imoral. O regime tem instituições e meios para responsabilizar, banir e substituir os indignos. E, de lambuja, corta as asas de eventuais arroubos ditatoriais. Mas, instituições e órgãos precisam funcionar. A democracia respeita e protege as pessoas, mas exige dignidade dos que governam. Fácil concluir que a indecência não vem da democracia.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).