Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

A Copa e a Civilização

05/12/2022 21H04

Jornal Ilustrado - A Copa e a Civilização

Eliseu Auth

Há exceções, mas o futebol é da nossa vida e da nossa história. Desde pequeno, a gente joga, assiste e torce para um time. O futebol é didático e democrata. Ensina a conviver com torcedor do time adversário e respeitá-lo. E não exclui quem quer que seja. Do centro à periferia. Do campo à cidade, a bola não faz diferença. Muito menos discrimina por raça ou cor ou sexo.

Nasci na roça, lá em Linha Salto no interior do Rio Grande amado. Na época pertencia a Santa Rosa que se estendia até as barrancas do rio Uruguai. A primeira bola da infância era uma bexiga de porco que enchíamos de ar. O campo era demarcado com pedras. Na Escola, a bola já foi mais moderna. colega Lauro Seger levava um maciço de borracha compacta que chamávamos de “bolita”. Tinha o tamanho de uma laranja pequena que pulava feita cabrito. Quando Lauro faltava à Escola, ficávamos tristes e sem jogar. O ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” deve ter história parecida. Havia muitos campos de várzea, ocupando a gurizada. Veio o “progresso” e a especulação imobiliária. Os campos foram sumindo e dando lugar a prédios, edifícios confomínios e construções. Uma pena que dá um quase-banzo na gente.

Cá estamos, gostadores da bola que somos. Nossa seleção está no Catar e torcemos que nos faça hexacampeões. Aí sim, cabe enrolar-se na bandeira verde-amarela que é de todos. Vale rezar aos céus, pedir a Deus, Nossa Senhora, santos e anjos. Invocar Tupã, orixás, xamãs, magos e pajés. Cruzar dedos e fazer figas. Cada qual tem sua fé que precisa ser respeitada. Afinal, quem tem a verdade, se todos tateiam no escuro e se Deus é o mesmo?

A copa do mundo deveria ser também uma exaltação à civilização e seus valores fundamentais. Carimbar que homens, mulheres, brancos, negros, amarelos ou vermelhos são pessoas humanas que merecem respeito. Lá onde estão ou estiverem, inclusive nos países autoritários como o Catar. Não é afronta, apresentar-lhes nossa pauta que enaltece a dignidade humana. Seja na escolha de governos, opção sexual ou da forma de se vestir. Valores universais tornam-se princípios e não cabe transigir como a Fifa fez, proibindo manifestações na defesa das premissas da civilização. Por fas ou por nefas, ela está sendo claudicante. Não deveria separar a Copa e a Civilização.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).