Fala Psi_25/09/2021
Karina M. Fernandes Portella
Byung-Chul Han, professor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim, em seu livro intitulado Sociedade do Cansaço, realiza reflexões inquietantes e pertinentes para analisarmos as relações entre sociedade e sofrimento psíquico contemporâneo. Estamos vivenciando uma época em que há a valorização da hiperprodutividade e a capacidade de empreender múltiplas tarefas. A “sociedade do desempenho”, como o autor define, remete a imposição da performance e do desempenho mediante a auto superação que deve ser incorporada pelo sujeito, partindo de um pensamento extremamente positivista, como exemplifica o slogan “Yes, we can”, utilizado pelo presidente estadunidense Barack Obama, que em sua tradução quer dizer “Sim, nós podemos”. O aspecto principal desta análise consiste em compreender o quanto este processo de transformação contemporânea, esta perseguição obstinada do “tudo podemos” circunscreve formas de desempenho profissionais destrutivas física e psiquicamente. O sujeito do desempenho, que deve ser mais rápido, eficiente, flexível, criativo e incansável, está fadado à constante auto superação, ainda que o custo possa ser a auto supressão. E é justamente este excesso de produtividade e de positividade que nos conduz a estados psíquicos de esgotamento, característicos de um mundo que se tornou pobre em qualidade de vida. A coação do desempenho exprime a necessidade de produzir cada vez mais, numa concorrência consigo mesmo, sem alcançar qualquer ponto de repouso ou satisfação. Nesse contexto, facilita-se o desenvolvimento de complicações psicológicas como o burnout (esgotamento) e a depressão. A tão valorizada auto realização encaminha o sujeito para a auto destruição. Como nos mostra Corbanezi (2018), “Você S/A configura o novo paradigma das relações sociais de produção capitalista contemporânea”, isto é, a constante inserção de estímulos tende a diminuir o desligamento dos indivíduos, tendo como consequência lógica, o aparecimento de questões relacionadas à saúde mental ou à falta dela. A sociedade do desempenho agudiza inicialmente (e não para por aí) o esgotamento e posteriormente a depressão, provenientes deste excesso de positividade e sobrecarga.
Karina M. Fernandes Portella
Psicóloga clínica, pós graduanda em Neuropsicologia, Psicologia Hospitalar e Análise do Comportamento.