Colunistas

27/11/2021

SÓ OS SUPERFICIAIS VEEM A SUPERFÍCIE DOS OUTROS

26/11/2021 19H19

Jornal Ilustrado - SÓ OS SUPERFICIAIS VEEM A SUPERFÍCIE DOS OUTROS

Luís Irajá Nogueira de Sá Júnior

Advogado no Paraná – Palestrante

Professor do Curso de Direito da UNIPAR

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Martin Luther King Junior (1.929 – 1.968), foi um pastor batista e ativista político estadunidense que se tornou a figura mais proeminente e líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos de 1.955 até seu assassinato em 1.968. King é amplamente conhecido pela luta dos direitos políticos através da não-violência e desobediência civil, inspirados por suas crenças cristãs e o ativismo não violento de Mahatma Gandhi. É dele a frase: “Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele”.

Estamos atravessando o mês da consciência negra. Apesar da legislação rigorosa no combate ao racismo, inúmeros casos são registrados todos os dias. O racismo velado coisifica as relações sociais e, pretende em vão, desumanizar o homem. Só as pessoas superficiais veem a superfície dos outros. Os profundos veem a alma e o coração. Veem a mente como manifestadora da vontade à razão do que é certo ou errado.

Os superficiais só enxergam a pele, a cor dos olhos, a magreza, a gordura, as rugas, a etiqueta da camisa dos outros. Os profundos enxergam a capacidade de ser bom, a educação, a manifestação de virtudes, tudo aquilo que flui da vontade, dos sonhos, da religiosidade.

No que consiste o racismo velado (a discriminação velada)? É a ação de dizer algo racista, mas não ter noção da gravidade do preconceito racial anexado a frase endereçada a uma pessoa. Quando se diz que no Brasil o racismo é praticado de forma velada, quer dizer que foi praticado encoberto, disfarçado, escondido (coberto com véu). O autor da discriminação e do preconceito (agressor) não revela seu verdadeiro sentimento em relação ao agredido. Disfarça seus sentimentos com brincadeiras recheadas de segundas intenções. Brinca, quando na verdade quer humilhar, ofender, menosprezar e diminuir o outro.

Esse comportamento da sociedade brasileira traz consequências devastadoras para os ofendidos. Pesquisa feita pela USP – Universidade de São Paulo mostra que o racismo faz com que muitas pessoas negras se sintam insuficientes e culpadas devido a essa falta de integração plena em uma sociedade que as violenta e as segrega recorrentemente.

Vivemos em um país livre, plural e multicultural. Aqui, diferente do resto do mundo, convivem, social e harmonicamente, diversas etnias. Por conseguinte, toda manifestação cultural (hábitos e costumes) deve ser respeitada, conforme prevê a nossa Magna Carta. Vale frisar que um indivíduo pode ser discriminado em razão de suas crenças, expressões religiosas, idioma, roupas, costumes e tradições. Qualquer demonstração de aversão, seja por meio de palavras ou ações, em relação à cultura particular de determinada população étnica ou de um único indivíduo é discriminação.

Martin Luther King nos deixou o seguinte ensinamento: “Chega um momento em que temos que tomar uma posição que não é nem segura, nem política, nem popular, mas que deve ser tomada porque a consciência lhe diz que isso está certo. Eu decidi ficar com o amor. O ódio é um fardo muito grande para suportar”.

O homem superficial é muito raso. Não consegue entender o caráter do seu comportamento. Pois, a superfície, na maioria das vezes, é decisão divina. Quando dizemos ou pensamos: “odeio um negro”, de fato devemos lembrar que odiamos a Deus. Não podemos odiar no outro aquilo que ele não pode mudar: sua pele, sua sexualidade, seus limites mentais, etc. “Respeitar ou outro como o outro é”, é tudo o que chamamos de ética. Pense nisto!