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Coluna Psi _ 13/11/2021

Saúde emocional nas organizações

13/11/2021 07H25

Jornal Ilustrado - Saúde emocional nas organizações

Compreender a complexidade dos processos de adoecimento relacionados ao trabalho é um desafio a ser vencido, principalmente quando falamos de saúde emocional. Os aspectos físicos, mecânicos, químicos e biológicos das condições às quais os trabalhadores são expostos continuam sendo priorizados enquanto fatores de risco à saúde, enquanto que, os aspectos intersubjetivos (sociais, econômicos, organizacionais e outros processos psicossociais) que repercutidos, são minimizados ou ignorados. O 1° Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade, realizado pela Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda em 2017, mostra que os transtornos psicológicos e comportamentais compõem a terceira causa de incapacidade para o trabalho. Os episódios depressivos são a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, correspondendo a 30,67% do total, seguido de transtornos ansiosos (17,9%). Outras demandas recorrentes expressadas nestes contextos destacam o burnout e a dependência química. Neste ano, o Instituto Datafolha, com a plataforma de saúde emocional Zenklub, realizou uma pesquisa apontando que 64% dos brasileiros não possuem benefício no trabalho para cuidar da saúde mental, embora 86% considerem que ter acesso a eles os ajudariam a lidar com os impactos da pandemia. Quanto mais nos aproximamos deste assunto, mais identificamos a crescente demanda por intervenções que contemplem construções de políticas públicas mais amplas e articuladas, voltadas também para as condições pessoais, relacionais e organizacionais. Através de ações de prevenção, assistência e reabilitação profissional, seria possível combater o não gerenciamento de emoções e de conflitos, a melhoria do clima organizacional e do estresse ligado ao contexto laboral, o aprimoramento da comunicação não violenta e tantas outras perspectivas que envolvem o ser humano dentro e fora das organizações. Ainda buscamos o reconhecimento, por parte dos empregadores, mas também dos colaboradores, da relação entre o trabalho e o adoecimento emocional. E só assim, daremos um primeiro passo na direção da prevenção destes agravos e na promoção de saúde destes trabalhadores.

Karina M. Fernandes Portella
Psicóloga clínica, pós graduanda em Neuropsicologia, Psicologia Hospitalar e Análise do Comportamento.
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