19/03/2022
A comunicação assertiva (ou a falta dela) consiste em uma das demandas mais comuns constatadas nos atendimentos clínicos. Principalmente a comunicação verbal que é resultante do diálogo. Na grande maioria dos casos, não se consegue identificar que há ajustes a serem realizados nesta que é uma das primeiras e primordiais habilidades adquiridas em nossa vida. Desde os primeiros meses aprendemos a nos comunicar com os demais e algum tempo mais tarde, aprendemos a comunicação verbal. No entanto, dada a influência que os ambientes exercem sobre o nosso comportamento, nem todos os estímulos são satisfatórios em relação ao desenvolvimento do repertório de comunicação. As queixas podem aparecer como: timidez, insegurança, receio de falar em público, desordens da fala, disfluência verbal. Podem surgir também como dificuldades de estabelecer limites, de comunicar necessidades, de estruturar ideias e opiniões, dificuldades de se relacionar, se posicionar, de pedir ou aceitar ajuda. Bem como, em contrapartida, o estabelecimento de comunicações mais violentas e agressivas com gestos ou verbalizações hostis, imposição de pontos de vista, acusações, punições, manipulações. Aprender a dialogar é vital para a convivência em sociedade e isto inclui aperfeiçoar formas de comunicação não apenas verbais. Você já ouviu a expressão “quem tem boca vai a Roma?”, pois então, mais do que apenas falar, o diálogo é resolutivo, expressa necessidades. Uma comunicação agressiva baseada em ofensas e críticas cria abismos entre as pessoas em qualquer relacionamento. Dialogar pressupõe uma postura dialética, não apenas discursos e monólogos. É construção com outros, impossível de ser alcançado sozinho(a), exige escuta ativa: compreensão, cuidado, ouvir, analisar e não apenas retrucar. A diferença entre diálogo e discussão está na competição implicada em discussões (alguém precisa “vencer”). O diálogo possibilita uma linguagem de ação positiva, expressar-se sem que ninguém esteja necessariamente errado. Estamos tão acostumados a associar conversas importantes com discussões (acusações e punições) que não nos disponibilizamos para aprender a dialogar como ferramenta de manutenção das relações, sejam elas quais forem. Muitas pessoas possuem dificuldades de usar o diálogo para expressar reconhecimento, apreciação, respeito. Ou mesmo dificuldade de transmitir seus medos, angústias, preocupações. Uma perspectiva interessante que Marshall Rosenberg nos ensina em seu livro “Vivendo a Comunicação Não Violenta” é a de que não existem sentimentos positivos ou negativos, existem apenas sentimentos que aparecem quando nossas necessidades são atendidas e sentimentos que aparecem quando elas não são atendidas e ambos são valiosos, ambos falam da vida e são essenciais em todas as nossas relações, por isso não precisamos ter receio associando nossos diálogos a bons ou ruins, apenas como necessários. Deixo então o convite para nos abrirmos a diálogos de fato dialógicos, capazes de nos fazer evoluir e melhorar nossas relações.