Artigos

Por (a natalina) Ângela Russi

Músicas natalinas

25/12/2022 08H22

angela_russi

Numa confraternização de fim de ano, tocava músicas natalinas clássicas (aquelas com harpas), quando uma amiga disse: “ que nostalgia”! E contou (com carinho) que sua avó, já falecida, tinha dois discos, os LPs, com aquelas músicas e os colocava para tocar incansavelmente desde a montagem do presépio até o natal. Sua memória ao ouvi-las são as melhores, pois o contexto lembra momentos felizes.

E eu pensei sobre contexto. E músicas natalinas (que adoro).

Será o contexto (Natal) que faz com que ouçamos essas músicas todos os anos, ou será a música que faz o contexto ser mais especial?

Sabe, as coisas mudam de figura dependendo da circunstância que as envolve. Eu descobri por mim mesma que algumas músicas se tornaram mais ou menos importantes de acordo com o fato que representaram na minha vida. Você já parou para pensar no contexto de algumas músicas que ficaram em sua memória?

Eu sim. E vou “te contar para você”, o resultado foi bem óbvio.

Exemplos meus: “O Sol” do J. Quest, contexto: tratamento contra o câncer. (Eu não queria ir ao hospital, mas precisava.) “Ei medo, eu não te escuto mais, você não me leva a nada… E se quiser saber pra onde eu vou. Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou”.

“Noites Traiçoeiras” do Pe. Marcelo, evito ouvir, pois traz o contexto de muita dor para mim.

“Despedida” do Roberto Carlos tem o contexto da minha filha embarcando para o doutorado na Itália.  Coração sendo arrancado do peito, misturado com orgulho. (Até hoje).

“Black Bird” dos Beatles: meu filho a dedilhando no violão antes de ir para o mestrado em Portugal. O contexto: eu chorando escondido e sorrindo na frente dele. Já sabia como a saudade doía. (Ah, o ninho vazio.) Anos depois, eu o levei ao altar ao som dessa música. Delicadeza dele e de minha nora que mudaram o contexto.

“A Dor da Saudade” do Mazzaropi, contexto infância, música preferida do meu pai.

Canções Marianas, me acalmam até hoje, contexto: devoção de minha mãe.

Chitãozinho e Xororó, Belchior, Zé Ramalho, Queen, contexto de minha infância e adolescência com meus irmãos. Enfim, contextos de “passado que se faz presente” quando ouço.

E assim são as músicas que ouvimos todos os anos no natal. No fundo a gente tenta voltar ao passado por uns momentos. E como o natal é aquela festa que deveria ter contexto “família”, buscamos o aconchego que ela deveria trazer nas músicas. Para alguns isso é felicidade. Para outros é tristeza. 

Felizes ou tristes, vamos construindo nossa identidade ouvindo música. Ela é a comunicação além de palavras. Quantas músicas parecem dizer o que a gente gostaria de ter dito e não disse?

Independentemente de meu estado de espirito, músicas natalinas clássicas mexem comigo! Muitas memórias. (E o que seria da gente sem elas?)

Então, se é assim, por que não tentar produzir agora (e armazenar para o futuro) memórias boas? E não é isso que inspiram as músicas natalinas? A querer o bem, a paz, a benção, a união. Mesmo tendo as rusgas familiares (duvido uma família que não as tenha), estar junto é mais legal. Se for possível perdoar, pedir perdão, tentar ficar bem com quem faz falta, ótimo. Se não, o junto pode ser “eu comigo”. E tudo bem também. O que não pode faltar é gratidão pela vida e uma musiquinha tocando para que as circunstâncias melhorem o contexto para o futuro. E como escreveu uma das minhas sobrinhas, psicóloga: um natal feliz é você quem faz! Esteja desperto para sua história e seus sentimentos. Feliz Natal!

Ângela Russi e professora, escritora e transformadora de almas