Eliseu Auth
Sou ambientalista por inteiro. Parte das minhas convicções, devo ao cacique “Seathl”, da tribo “Duwamish” que, em 1855, escreveu uma carta histórica ao então Presidente dos Estados Unidos que pretendia comprar as terras da tribo, no Estado de Washington. Guardo, em papel amarelado pelo tempo, uma cópia da carta traduzida por Roberto Tamara e publicada na revista norueguesa “Norsk Natur 10”. Lembro que já escrevi sobre essa carta que comentei e li para meus queridos alunos. Quis contagiar quem pudesse com o seu conteúdo sempre atual. E volto a fazê-lo. Lá vai:
“O grande chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e sua benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita de nossa amizade. Porém, vamos pensar em sua oferta, pois sabemos que, se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe em Washington pode confiar no que o chefe Seathl diz, com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alternação das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas – elas não empalidecem.”
“Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é nos estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água. Como podes, então, comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre o nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, as práias arenosas, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele, um torrão de terra é igual a outro. Ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga. Depois de exauri-la, ele vai embora. Deixa pra trás, o túmulo dos seus pais, sem remorsos de consciência.” A carta continua. Volto a ela em um outro dia com as lições do Cacique “Duwamish”.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).