Por Ângela Russi
Por que você ama Umuarama? Estavam gravando um minidocumentário sobre o meu pai para as comemorações dos 64 anos de nossa cidade e essa foi a pergunta que me fizeram ao final. Nunca tinha pensado sobre isso. A resposta me pareceu óbvia. Nasci aqui. Estudei, casei, tive meus filhos aqui. Meus pais escolheram viver aqui. Morreram aqui. Tenho um círculo de amizade construído aqui. Mas, será que ‘o amar’ é isso? Afinal, como chegamos a amar? Eu sei que amo, mas por quê?
Dizem que o amor não se explica. Explicações sobre ele o reduziriam, afinal é um sentimento grande demais, refinado demais, complexo demais para ser esclarecido. Uma emoção inexplicável para ser sentida e não racionalizada. Toda explicação quer no fundo racionalizar o explicado. A palavra é tão mais importante que a explicação, que muitas vezes se banaliza o que se acredita saber sobre ela. Imagine, então, a explicação da palavra amor? Quem sou eu para tentar explicá-la? Nem tento.
Amar é sentir então esse amor inexplicável. Sente quem não desiste de alguém que muitas vezes nem merece ser amado. Amar não é romantismo. Romantismo faz parte do amor. Sente quem aceita as limitações do outro. Não se ama o perfeito, pois ele não existe. Deus existe e é perfeito, dirão a mim. Eu sei. Deus é o amor. E a gente está lutando ainda para entender essa dimensão. Perfeição é o objetivo do amor. Estamos a caminho.
Sente quem se permite entender que o tempo fortalece ou acaba com o amor sentido. À primeira vista, só ilusão. Se perdurar é amor. Se acabar, empolgação. Se o tempo é o senhor da razão, então, que permaneça o que tiver de ficar. O que for verdadeiro. E que se vá o que for para ser apenas recordação.
Sente quem compreende que a liberdade é a essência do ser humano e por isso não deseja ter ninguém escravizado ao seu lado. Quem ficar que seja por escolha, por opção, por amor. Mesmo que à distância, mesmo que na mesma cama, o que importa é ser presença para quem se ama.
Sente quem não tem medo de revelar seu sentimento, e não guarda para si palavras de amor que outros gostariam de ouvir. Diz em palavras e atos, aproveita momentos e fatos, para amar e fazer o amado sorrir.
Sente quem pede perdão quando necessário, e perdoa quando é preciso, pois sabe que perdoar não é esquecer. Perdoar é necessário para se libertar, e libertar o outro é preciso para continuar em frente. Ah, se levássemos isso realmente a sério! Quanto ciclo se encerraria para outro se abrir. Como dizem por aí: “o problema não é ter uma pedra no meio do caminho. O perigo é apegar-se a pedra”.
Sabe, é possível continuar infinitamente essa lista sobre quem sente amor. Explicá-lo é que não é possível. Sem tentar explicar, gosto do que cantou o Zé Ramalho: “sinônimo de amor é amar”. É amando que tentamos entender o que é o amor.
Amando é que se exercita o amor em forma de cuidado. Cuidando de si, cuidando de quem está próximo e dos distantes. Cuidando do animalzinho de estimação. Por que é estimado. Cuidando de desconhecidos. Esse é o trabalho voluntário. Cuidando do meio ambiente. Onde mais se poderia viver? Cuidando sem achar que isso seja um peso. Sem se considerar por isso a oitava maravilha do mundo. Apenas por amar. Esse sentimento inexplicável, que só quem sente consegue explicar. Do seu jeito, mas consegue.
Tive a graça de conhecer muitas cidades pelo mundo. Paris é apaixonante. Milão, incrível. Viena, a cidade mais limpa que vi. Berlim, interessantíssima. Londres, um sonho. Porto, agradabilíssima. Guimarães, uma riqueza histórica. Veneza, a cidade mais linda que já vi. São Paulo, tão cultural e o Rio de Janeiro de uma beleza sensacional. E o que tem Umuarama?
Tem o meu coração. Eu me mudei de Umuarama duas vezes e voltei as duas vezes. Amar é isso. Não é conveniência. Não é comodidade. Não há explicação. Umuarama não é apenas minha cidade natal ou uma opção, ela é realmente a cidade do meu coração. E a sua, qual é?