DICAS
Um Pronto-Socorro de bairro na periferia de São Paulo é indispensável para a população simples. A médica Cirurgiã Geral fica sobrecarregada nestes momentos, mas não cede. Ela sonha com o dia em que vai trabalhar como pesquisadora em algum laboratório moderno, bem equipado, talvez criando pele artificial para transplantes. O sonho parece ficar mais longe quando a estudante universitária morre nos braços dela. Mas quando o corpo começa a se regenerar, é como se o destino começasse a responder. Ela rouba o corpo da menina morta e o leva para estudar no chalé, no meio do mato. Assim começa a história de Celina e Débora, duas mulheres sem nada em comum, uma profissional especializada em salvar vidas, a outra improvisada como um monstro destruidor de vidas. Curiosamente, uma depende da outra na busca por um futuro. Como ingredientes extras se tem o cenário estudantil de uma faculdade moderna; o clima sempre tenso do Pronto-Socorro; as intrigas políticas de um vereador inescrupuloso ligado a um personagem envolto em mistérios, além de um chalé muito aprazível dentro de uma floresta chamada Mato das Cobras. E, como não podia deixar de ser, um final inesperado cheio de tecnologia e surpresas. Será mesmo um final? De Clóvis Nicácio, o livro tem 298 páginas e é da Editora Casa do Escritor.
Suzana Izumo, uma nerd e fã de desenhos japoneses, sempre sonhou com mundos fantásticos e aventuras. E, como não podia deixar de acontecer em um livro como “Ninja Angel Sayuri – a Lenda da Otaku”, seu desejo é realizado: ela é atropelada e uma amiga a devolve à vida ao colocar seu coração em um vaso mágico e milenar. O enredo de João Lucas Fraga é caracterizado pelo subgênero fantasia urbana, ou seja, um mundo mágico ambientado na realidade atual. O desafio da protagonista é se juntar a aliados e lidar com os magos elitistas que governam Couto da Malta, enquanto treina para enfrentar o que quer que tente vir tirar seu coração do vaso. A crítica política aparece na produção como a cereja do bolo: não é o grande carro-chefe da obra, mas completa o enredo com um toque especial: “Você não deve ter reparado, mas naquele aeroporto de Viracopos que a gente ajudou tinha um adesivo no vidro do carro dizendo que “bandido bom é bandido morto”. E ele não estava falando do bandido que toma um porre e dirige, arriscando a vida dele e a alheia. Estava falando do menino de rua que rouba um pão para comer. Porque bandido, para eles, é sempre o outro e só tem uma classe social e uma cor. Aliás, minto. Bandido, para eles, também é quem defende os mais fracos. Sabe aquele padre em São Paulo que foi ameaçado de morte por trabalhar em favor de gente em situação de rua? Isso não é incomum”, revela trecho do livro. Disposta a saber quem a matou e a aprender tudo do mundo mágico, Suzana mergulha na nova realidade que surge após a sua “morte”. João Lucas Fraga, além de provocar a sensação de que o leitor já conhece Couto de Malta, enriquece a produção com as notas de rodapé, presentes em todo o desenrolar da narrativa. Com 336 páginas, a obra está disponível em e-book.
Mais do que construir uma narrativa que atraia o público infanto-juvenil para o mundo da literatura, Márcio Rabelo, professor de Língua Portuguesa e mestre em Letras, usou a própria ficção para ensinar estudantes a escreverem uma narrativa. “A Casa da Chácara” é uma história em metalinguagem destinada aos jovens em período escolar. Para isso, Márcio utiliza dois narradores para contar a história. Um deles é Jurena, a própria protagonista da obra. O outro é o Narrador – sim, com o “N” maiúsculo, um narrador comum que ganha personalidade e interage com o leitor. É em meio aos acontecimentos da história que o Narrador explica sobre construção de personagem, elementos de uma narrativa, enredo, clímax… tudo de uma forma leve e sem perder o gancho da história. Já Jurena é quem conta a história da chácara que dá título à obra. É lá que mora uma solitária senhora de 70 anos com várias árvores frutíferas que atraem a atenção da menina e do seu melhor amigo, Davizinho. O interesse dos dois pela chácara é justamente pela animosidade da vizinha: ninguém pode entrar lá. Em uma das invasões secretas dos amigos, eles acabam por desconfiar que existe um prisioneiro, supostamente o ex-marido da senhora, que todos julgavam morto. Intrigados com esse mistério, criam uma estratégia para desvendar o enigma e salvar o suposto prisioneiro. Com 190 páginas, o livro é da PoD Editora.
O príncipe que já não era mais tão encantado, depressão pós-parto, as dificuldades na infância e a dor pela perda da mãe teceram “Os Fios da Vida” de Angel. A obra da pedagoga e escritora Nanci Otoni, narrada de forma humorística, um dos traços característicos de sua personalidade, é um retrato desenhado em 132 páginas de várias dificuldades enfrentadas por mulheres em algum momento da jornada. A história se passa no ambiente familiar, responsável por vários conflitos vividos por Angel e Prince durante 29 anos de convivência. A frustração com a lua de mel que acabou antes do esperado, além de uma gestação, parto e puerpério traumáticos, comprometeu ainda mais a saúde mental da protagonista que já não viveu uma infância e adolescência com estabilidade. Por meio de terapias, reflexões, autoconhecimento e ressignificações, Angel compreende o que está por trás de tantas dificuldades e dores. “Os Fios da Vida” é para todo o leitor que ainda espera encontrar a felicidade, mas sem se esquecer das oscilações que uma vida intensamente vivida ainda vai apresentar. Verdadeira homenagem para a mãe da escritora, a obra registra os ensinamentos de uma mulher que acreditava na educação como o único caminho para o sucesso. Assim como a protagonista, Nanci Otoni também realizou o sonho de sua adorada mãe: formou-se em Letras para ser educadora. Com 132 páginas, o livro é da Editora Albatroz.