Coluna Psi -11.12.2021
Levando em consideração a aproximação das festividades de natal e todos os significados atribuídos ao consumo nesta época do ano, torná-lo mais consciente é imprescindível. Primeiramente, vamos diferenciar consumo de consumismo, certo? O consumo é um elemento inseparável da sobrevivência biológica, atuando permanentemente e, de forma desproporcionalmente central. O consumismo expressa a extrapolação do consumo, através da aquisição de grande quantidade de bens e serviços que não são indispensáveis. O fenômeno do consumismo mostra-se social e coletivamente e não apenas individualmente, implicando em aspectos subjetivos como a formação de identidades. No livro Vida para Consumo (2008), do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, o autor destaca a centralidade do consumo no arranjo social que vivenciamos, questionando a transformação das vontades e dos desejos das pessoas como principal força propulsora e operativa da sociedade e, com isso, evidenciando a ocorrência de certa obsolescência psicológica, isto é, a inadequação proveniente da não obtenção de bens. De acordo com ele, o consumo organiza as relações sociais, mas ao se tornar protagonista transforma também o consumidor em mercadoria. Seres consumidos, com relações mercantilizadas. Hello Tinder, catálogo de seres humanos. O fato é que o comportamento compulsório tem origens multifatoriais e contracena com a dependência e o vício que, além de gerar problemas de ordem econômica, também contribui para complicações de ordem psicossocial. Outros aspectos a serem considerados em relação à economia e seus impactos psicológicos podem ser percebidos em uma pesquisa recente realizada pela Serasa no Brasil (2021) com a seguinte temática: “Mapa do endividamento no Brasil bate recorde: 75% das famílias têm dívidas” e mais, o desemprego aparece como fator predominante entre as causas. A responsabilidade financeira, a dificuldade de honrar compromissos e o endividamento exerce densa influência sobre a saúde mental, sem contar todos os fatores sociais e todos os espectros da desigualdade em nosso país agravados com a vivência da pandemia. Cabe findo questionamento: A crise é oportunidade para quem? Acaba por se tornar uma equação de inconcebível resolução: Desigualdade abismal + endividamento como manobra para sobrevivência + saúde mental. Por um lado, consumismo desenfreado. Por outro, profundas fissuras econômicas e sociais problemáticas.