INFORME UEM AGRÍCOLA
Prof. Dr. Julio César Guerreiro
Departamento de Ciências Agronômicas (DCA); Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (PAG) e Sustentabilidade (PSU)
UEM – Umuarama
O início do desenvolvimento da agricultura se deu entre dez e doze mil anos atrás, a partir do momento que alguns indivíduos coletores de nossa espécie perceberam que das sementes caídas ao solo surgiam novas plantas que poderiam ser consumidas. O processo todo não se deu num passe de mágica, porém a partir dessas observações as povoações humanas deixaram de ser nômades e passaram a viver em aglomerações, que mais tarde deram origem às pequenas aldeias, vilas e cidades.
Os benefícios obtidos pelo desenvolvimento de técnicas agrícolas permitiram a domesticação de plantas e animais, tornando a convivência humana mais sociável e segura. Porém alguns problemas surgiram e outros foram intensificados. Com a maior ocorrência de aglomerações humana houve o desenvolvimento de doenças, e por alterarem o ambiente para realizar o cultivo, alguns organismos foram favorecidos e passaram a concorrer com a produção das culturas.
É possível dizer que os problemas com as pragas agrícolas surgiram a partir do momento que a espécie humana alterou o ecossistema para a condução das plantas. Então desde o início do desenvolvimento da agricultura um dos principais objetivos dos lavradores foi o controle dos insetos que se alimentavam das plantas cultivadas.
A princípio o controle de pragas se dava por tentativa e erro, e nesse processo utilizavam-se ferramentas disponíveis em cada época. O enxofre, pela sua fácil obtenção e manipulação, foi um dos primeiros produtos utilizado para o controle de pragas, há registros na bíblia da utilização desse elemento para a depuração de ambientes agrícolas e urbanos.
As substâncias utilizadas para o controle de pragas variaram de seguras para o ser humano e o ambiente como os extratos de plantas, a muito tóxicas como as substâncias composta por arsenito de cobre (“Verde Paris”), e mais tarde os inseticidas do grupo dos organoclorados, como o DDT e o BHC, produtos de alta persistência ambiental e que se acumulava nas gorduras corporais dos animais.
Uma das ferramentas de controle mais eficiente e segura que acompanha a agricultura, de forma natural, desde o início do desenvolvimento do processo agrícola, é o controle biológico de pragas. Apesar de parecer uma tática e estratégia de controle recente, já é um método utilizado há milhares de anos. O primeiro registro da utilização aplicada do controle biológico remonta ao século III a.C., com os chineses utilizando formigas predadoras para o controle de pragas dos citros. Porém o primeiro grande caso de controle se deu na década de 1880, quando houve a importação da joaninha Rodolia cardinalis para o controle de cochonilhas na Califórnia.
O Controle Biológico de pragas pode ser definido como a ação de agentes causadores de doenças (Figura 1), predadores (Figura 2 e 3) e parasitoides (Figura 4) sobre organismos considerados pragas. A ação desses agentes de controle ocasiona a queda da pressão de ataque da praga, implicando em ambientes mais equilibrados e plantas menos danificadas.
Os principais agentes do controle biológico podem ser caracterizados como microrganismos e macrorganismos. Dentre os agentes microscópios se destacam os fungos, bactérias, vírus e protozoários. Nos dias atuais é comum a disponibilidade em mercados agrícolas de formulações desenvolvidas a base de microrganismos, e um dos agentes mais comercializados é o fungo. Basicamente duas espécies de fungos, Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae se destacam no controle de insetos pragas como a mosca-branca, cigarrinha da cana-de-açúcar e das pastagens, pulgões, percevejos entre outras.
Por outro lado, mas não menos importantes, estão os agentes macroscópicos que podem ser exemplificados por insetos chamados de parasitoides e pelos predadores. O grupo dos parasitoides tem importância capital no controle de pragas primárias e secundárias. Esses inimigos naturais são mais específicos e suas larvas vivem dentro do corpo das pragas, que são consideradas como hospedeiras. A vespinha Cotesia flavipes é um exemplo de parasitoide, e sua liberação para o controle da broca-da-cana está inserida em um dos maiores programas de controle biológico do mundo.
Entre os predadores, se destacam as joaninhas, os percevejos, e os ácaros predadores. São agentes de ocorrência natural, na maioria das vezes, e que consomem muitas presas durante sua vida. A utilização de ácaros predadores para o controle de pragas se trata da mais recente linha de trabalho e comercialização de empresas de produtos biológicos. Estes artrópodes são utilizados para o controle de ácaros pragas, mosca-branca e tripes de culturas como o morango, tomate, flores entre outras.
Quanto ao tipo, o controle biológico pode ser definido em clássico, aplicado e natural. O controle biológico clássico pode ser representado por técnicas de liberações pontuais de agentes biológicos trazidos de outros países e introduzidos no Brasil, espera-se o crescimento populacional gradual do agente de controle.
Com o controle biológico aplicado, são realizadas liberações massais e inundativas de agentes de controle, e sua eficiência na redução do número de pragas deve ser comparada àquela obtida com a utilização de inseticidas. Espera-se, portanto, eficiência superior a 90% no controle de insetos pragas.
Já para o caso do controle biológico natural, não se utiliza a liberação de agentes de controle, porém técnicas de condução das culturas são adotadas para favorecer os inimigos naturais, como a utilização de inseticidas seletivos e adoção de estratégias para a manutenção de áreas de refúgio para abrigo, reprodução e alimentação dos indivíduos benéficos, favorecendo seu retorno às culturas em épocas de ocorrência mais severa de pragas.
As vantagens da utilização dos agentes biológicos para o controle de pragas são inúmeras, destaca-se a maior segurança ao agricultor e consumidor, além do maior equilíbrio ambiental proporcionado. O controle biológico pode ser tratado como uma das maiores quebras de paradigmas do manejo de pragas em ambientes agrícolas e trata-se de uma técnica segura de controle de pragas e situada na vanguarda do processo de desenvolvimento agrícola racional no Brasil e mundo.